Lameblogadas

sexta-feira, maio 23, 2003


Pedro, início e fim

Fui pra casa com uma ponta de tristeza ontem. Morreu Argemiro Patrocínio, um velhinho encantador que conheci há tão pouco tempo, mas que tinha lugar cativo em minha vitrola muderna. Imaginei chegar cedo e ouvir o disco antes de dormir, pelo menos umas duas vezes, e relembrar o seu último show. Primeiro para mim, que voltei a curtir com intensidade esse mundo do samba, depois de alguns anos num exílio insuportável. Ah, Argemiro era da Velha Guarda da Portela, compôs sambas maravilhosos e morreu de amor, 15 dias depois da partida de sua querida mulher.
Mas a volta pra casa foi um mergulho no meu doloroso mar de dúvidas. Fiquei duas horas presa num engarrafamento da Ponte por causa de um acidente com 15 veículos. Tudo parado. Joana resolveu saltar. Eu preferi ficar no carro porque uma história comovente me prendia. A carona era da Beth Orsini, grande figura, repórter do Ela. Beth organizou um lindo livro de cartas de amor que ganhei de presente de uma pessoa que queria me convencer a namorá-lo. Não conseguiu, mas as cartas me marcaram profundamente e foram objeto do meu primeiro texto no Caroço, jornal da faculdade e de grandes amigos de quem tanto sinto saudade...
Hoje é um dia triste para a Beth. Está se completando um mês da morte do seu marido. Um cara que, segundo ela, apareceu em sua vida quando ela menos esperava, com um sorriso de "cuida de mim, eu a farei feliz". Alguém que a amava profundamente. Sofremos tanto por amor e com encontros infelizes e ilusórios que mal acreditamos quando a felicidade bate à porta. Perguntas como por que eu?, o que dará errado? ou quando irá acabar? nos torturam. Mulheres apaixonadas que somos, sempre à espera do grande amor, mas encontrando homens como o da linda música do Aldir Blanc e do Moacyr Luz: "Eu sou rolimã numa ladeira/Não tenho o vício da ilusão/Hoje, eu vejo as coisas como são/E estrela é só um incêndio na solidão/Se eu feri teu sonho em pleno vôo/Pra que pedir perdão se eu não me perdôo?"
Ela está inconformada. Não é para menos. Foram apenas três anos de convivência. Por que ela teve direito ao amor durante tão pouco tempo? A vida não tem mesmo explicação. Ainda mais quando Beth não consegue encontrar resposta para a sua maior dúvida: por que o Pedro se foi tão cedo?