Lameblogadas

terça-feira, novembro 25, 2003

A cântaros

Não gosto de falar de coisas tristes no blog. Mas há momentos em que elas nos invadem de tal forma que fica impossível não compartilhar com os outros.
Tem dias em que padeço de uma poesia do Manuel Bandeira. Mal que afligia meu ídolo maior na literatura, Nelson Rodrigues, e o próprio poeta. Nesses dias em que meu pulmão não funciona direito, eu deixo de existir no mundo físico e passo a morar no meu mundinho intelectual. É a hora de me embrenhar nos livros, de descobrir volumes novos na estante, de viver quase exclusivamente deles. O meu amor também me faz companhia e me fortalece.
Já não fico triste com a doença que parece não ter cura. Aprendi a conviver. Resta a perplexidade. Só a dor intensa me faz chorar. As lágrimas de outras mágoas acabam se misturando ao choro. Às vezes, ele sai suave. Tem que sair, ou o pulmão dói ainda mais. O olhar fixo no horizonte busca uma explicação: por que, aos 28 anos, tenho que conviver com a estressante rotina de exames, consultórios, remédios, injeções e anestesias?
A perspectiva de enfrentar um novo CTI me apavora. A lembrança da sala de cirurgia, onde os médicos conversam sobre futebol e a escola dos filhos, também. A esperança está no futuro. Ele demora muito a chegar. Mas eu vou sorrindo mesmo assim. Não há o que fazer se não esperar.