Lameblogadas

quarta-feira, janeiro 03, 2007



"Eu vou popotizar você"


Reza a lenda familiar que fui ao cinema pela primeira vez com três anos e estraguei a sessão do meu irmão. Conta a minha mãe que era um filme dos Trapalhões, passando num cinema do Fonseca (no tempo em que a Zona Norte, de Niterói, ainda tinha salas), e eu prendi o dedo na cadeira, comecei a chorar e ela não teve outra alternativa senão estancar meu berreiro do lado de fora. Com o meu irmão junto. (Como caçula que chegou para ocupar seu espaço, roubando o que era do irmão mais velho e cheio de si, eu adoro contar essa história!!)

Das boas lembranças que tenho da infância, o cinema é uma das principais. E Didi, Dedé, Mussum e Zacarias são os protagonistas dessa história. Outro dia, o Canal Brasil selecionou uma série de filmes dos quatro, para deleite dos baixinhos do início da década de 80. Um deles era o clássico dos clássicos "Os saltimbancos Trapalhões". Revi as cenas com aquela emoção que nos joga diretamente no passado, com as sensações, os cheiros, o tudo da época.

Era um programão ir ao cinema em Niterói, na rede Severiano Ribeiro, onde o cinema era a maior diversão. Agora me vem o cheiro de ar-condicionado, cortinas velhas, poltronas de couro e pipoca. Antes de entrar na sala escura, comprávamos sempre aquele pacote de mini-chicletes (que acabava antes do filme começar), balas caramelo, pipoca em saco de papel (nada de combos, por favor!), amendoins (quando ia só com os coleguinhas, a gente sentava no segundo andar e achava engraçado jogar os amendoins no chão para fazer barulho; jogávamos vários ao mesmo tempo! ah, quem não roubou uma bala na Americanas {em São Gonçalo, onde eu morava, tinha uma loja chamada Brasileiras!!!} que atire a primeira pedra!), pirulito Zorro e todas aquelas bobagens que agravava a dor de dente na visita ao dentista.

Tem coisas que ficam guardadas na memória e você acha que esqueceu até revê-las e ditá-las, de cor e salteado. A cena de Didi com o mágico em Os saltimbancos é uma delas. "Eu vou popotizar você" é inesquecível! A risada que dei quando revi, tenho certeza, teve a mesma intensidade da primeira. Voltei a ser criança naquele momento. Que gostoso! Gostaria muito de ver outros da série, como "Atrapalhando a Suate"; "O cangaceiro trapalhão"; "Os trapalhões nas minas do Rei Salomão"; esses que a gente via nas sessões da tarde...

(fiquei passada quando descobri, outro dia, que um repórter novinho do Globo nunca ouvira falar do Eduardo Conde, um dos maiores vilões da cinematografia dos Trapalhões. nem perguntei do alemão, ele só deve conhecer o sargento Pincel da TV)

Revendo, descobri, ainda bem, que o produto era bem-feito, que não estava na memória como algo bom só porque eu tinha visto com olhos infantis. Vá lá, tinham as musas, os dispensáveis atores conhecidos (globais?) e os efeitos especiais bobos, mas o roteiro era bem-feito, havia crítica social (Didi tinha um quê de Carlitos) e a graça que só perdurou enquanto os quatro estavam juntos. Que falta faz o Mussum e o Zacarias!

****

A propósito, comprei a versão remasterizada do disco "Os saltimbancos Trapalhões", com trilha sonora Dele, Chico Buarque, o que me inspirou a escrever esse post. Não sei vocês, mas ouvir de novo "Piruetas", "História de uma gata" e outros hits me faz, não digo chorar, mas ficar com os olhinhos cheios d'água.

Taí a música que embala as melhores cenas do filme:

Piruetas (1981 - eu tinha seis anos quando Chico compôs...)

Uma pirueta
Duas piruetas
Bravo, bravo
Superpiruetas
Ultrapiruetas
Bravo, bravo
Salta sobre
A arquibancada
E tomba de nariz
Que a moçada
Vai pedir bis
Que a moçada
Vai pedir bis

Quatro cambalhotas
Cinco cambalhotas
Bravo, bravo
Arquicambalhotas
Hipercambalhotas
Bravo, bravo
Rompe a lona
Beija as nuvens
Tomba de nariz
Que os jovens
Vão pedir bis
Que os jovens
Vão pedir bis

No intervalo
Tem cheirim de macarrão
E a barriga ronca
Mais do que um trovão
Quero um prato
Cê tá louco
Quero um pouco
Cê tá chato
Só um pedaço
Cê tá gordo
Eu te mordo
Seu palhaço
Olha o público
Cansado de esperar
O espetáculo não
Pode parar

Vinte piruetas
Trinta piruetas
Bravo, bravo
Polipiruetas
Maxipiruetas
Bravo, bravo
Sobe ao céu
Fura a calota
E tomba de bumbum
Que a patota
Grita mais um
Que a patota
Grita mais um

No intervalo
Tem cheirim de macarrão
E a barriga ronca
Mais do que um leão
Quero um prato
Cê tá louco
Quero um pouco
Cê tá chato
Só um pedaço
Cê tá gordo
Eu te mordo
Seu palhaço
Olha o público
Cansado de esperar
O espetáculo não
Pode parar

Dez mil cambalhotas
Cem mil cambalhotas
Bravo, bravo
Maxicambalhotas
Extracambalhotas
Bravo, bravo
Salta além
Da estratosfera
E cai onde cair
Que a galera
Morre de rir
Que a galera
Morre de rir

Ai, minhas costelas
Já tô vendo estrelas
Bravo, bravo
Ai, minha cachola
Não tô bom da bola
Bravo, bravo
Lona... nuvens
Tomba no hospital
Uma pirueta
Uma cabriola
Uma cambalhota
Não tô bom da bola
E o pessoal
Delira...
Maxipirulito...
Ultravioleta...
Bravo, bravo!

2 Comments:

  • vários comentários:

    1 - estou passada com essa de cinema no fonseca. nunca soube disso!

    2 - pacotes de mini-chiclete, balas caramelo e pirulito zorro foram A lembrança. muito bom!

    3 - eu não lembro do saltimbancos (as músicas amo, tenho CD, tal) e quero te pedir emprestado, pode? ou então a gente marca uma sessão na sua casa! eu levo o mentex!

    4 - eu, como o reporter novinho, só lembro do sargento pincel. eu nasci no ano da composição...

    By Blogger A digestora metanóica, at 2:58 AM  

  • Gi, o cinema se chamava "Cine Alameda", ficava na avenida que lhe dava o nome.

    Vamos marcar uma sessão na casa da Lili? O Marcelo tem o DVD, eu não tenho...

    Eu queria marcar uma audição do CD com os Caroços.
    Bjs

    By Blogger Cláudia Lamego, at 4:59 PM  

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