Da série "Eu gostava e não sabia de quem era"
Eu ouvi "Filosofia", pela primeira vez, numa roda de samba no Bip bip. Aliás, foi no dia em que conheci o bar-templo de Copacabana, onde também encontrei o meu amor uns dois ou três domingos depois ... A música de Noel foi a que mais me chamou a atenção naquela noite em que eu conhecia apenas um Zeca Pagodinho aqui e um Paulinho da Viola ali (mas não cantava, porque não ia dar a "pinta" de cantar só os sucessos!).
Saí com a música na cabeça, e pouco tempo depois compraria o CD do Chico ("Sinal fechado") onde nunca cansei de ouvi-la. Agora, quatro anos depois, lendo a biografia do homem, me lembrei daquela primeira roda e das tantas outras que fui desejando ouvi-la. Descobrindo essa e outras, que nunca liguei para saber de quem era, percebi o quanto Noel virou o meu compositor preferido - só empatando com aquele (adivinhem) que andaram comparando, quando surgiu, com o poeta da Vila.
Filosofia
O mundo me condena,
e ninguém tem pena
Falando sempre mal
do meu nome
Deixando de saber
se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo
que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba,
muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro,
mas não compra alegria
Há de viver eternamente
sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia
****
Outra música do Noel que adoro é "Até amanhã". Mas essa tem sido um mistério para mim descobrir quando ouvi pela primeira vez, onde e com quem. Lendo no livro, eu cantei junto, com a melodia certa e tudo. Sabendo a história da canção - Noel escreveu na despedida de uma turnê pelo Sul para uma das moças que conheceu num cabaré por lá.
Aliás, a história desta excursão musical, arranjada por Francisco Alves, é uma das melhores do livro. Noel se recusava a seguir as regras do conjunto - basicamente, chegar na hora marcada para os ensaios e usar smoking nas apresentações. Pois Noel sequer aparecia para ensaiar e chegava, atrasado!, para os shows! Para o desespero de Chico Viola e Mario Reis, que compunha o grupo "Ases do samba", estava sempre mal-ajambrado na hora H. No primeiro dia, disse que até tinha alugado o "terno" que vestia: de um garçom!!
Essa rebeldia de Noel, que passava as madrugadas em cabarés e puteiros, arrastando o pianista Nonô (tio de Cauby Peixoto) com ele, levou Chico Alves a reter o pagamento pelos shows, para tentar impedir as noitadas. Mas nada nem ninguém prendia Noel Rosa.
Até amanhã
Até amanhã, se Deus quiser,
Se não chover eu volto pra te ver,
Oh, mulher!
De ti gosto mais que outra qualquer,
Não vou por gosto,
O destino é quem quer.
Adeus é para quem deixa a vida
É sempre na certa em que eu jogo
Três palavras vou gritar por despedida:
"Até amanhã! Até já! Até logo"
O mundo é um samba em que eu danço,
Sem nunca sair do meu trilho,
Vou cantando o teu nome sem descanso,
Pois do meu samba tu és o estribilho.
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