Volta à rotina
Olhar perdido na multidão da Rio Branco, passeio pela feira de livros da Cinelândia, café no Odeon, cinema no Espaço Unibanco, comprinha no Luzes da Cidade, presente do namorado, leitura no escuro da Voluntários, música da Clara na Ponte e poesia de Ana Cristina Cesar antes de dormir:
é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama
********
ENCONTRO DE ASSOMBRAR NA CATEDRAL
Frente a frente, derramando enfim todas as
palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que
não é mudez.
E não toma medo desta alta compadecida
passional, desta crueldade intensa de santa que te
toma as duas mãos.
*********
LÁ FORA
há um amor
que entra de férias.
Há um embaçamento
de minhas agulhas
nítidas diante
dessa boa bisca
de mulher.
Há um placar
visível em altas horas,
pela persiana deste hotel,
fatal, que diz: fiado,
só depois de amanhã
e olhe lá,
onde a minha lâmina
cortante,
sofrendo de súbita
cegueira noturna,
pendura a conta
e não corta mais,
suspendendo seu pêndulo
de Nietzsche ou Poe
por um nada que pisca
e tira folga e sai
afiado para a rua
como um ato falho
deixando as chaves
soltas
em cima do balcão.
************
Para Lili, amiga que me mostrou o caminho da poesia
VACILO DA VOCAÇÃO
Precisaria trabalhar - afundar
- como você - saudades loucas -
nesta arte - ininterrupta -
de pintar -
A poesia não - telegráfica - ocasional -
me deixa sola - solta -
à mercê do impossível -
- do real.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home