Ao vivo
Sexta-feira quebrei um jejum de quase dez anos sem ir a um show de rock e fui ao Circo Voador assistir ao Barão Vermelho. Parecia ter voltado no tempo. Frejat, Rodrigo Santos (baixo), Fernando Magalhães (guitarra), Perninha (percussão), Maurício Barros (teclados) e Guto Goffi (bateria) fizeram um show antológico, recheado dos maiores clássicos da banda e com uma homenagem muito especial ao seu ex-vocalista Cazuza. "Convidado especial" da noite, Cazuza dividiu os vocais de Codinome beija-flor com Frejat. Muita gente foi às lágrimas.
Era noite de gravação do segundo DVD da banda. O cansaço (passara o dia inteirinho em frente à Petrobras esperando a saída do ministro Antonio Palocci do prédio), o calor e o pouco espaço para movimento na pista não abalaram minha alegria. O Circo, onde o grupo iniciou sua carreira, estava lotado. Bem antes do show começar, já gritávamos em coro "Barão, Barão, Barão". Pareciam os velhos tempos, quando eu encontrava as pessoas de sempre na fila do gargarejo. Até Frejat, do palco, parecia reconhecer o fã-clube, sorrindo, acenando e posando para as fotos. É muito engraçado identificar os fãs apaixonados e suas épocas. A menina ao meu lado que sabia de cor só os sucessos de meados dos anos 90, o cara da frente que, como eu, cantava as músicas oitentistas menos conhecidas...
O tempo passou e o Barão Vermelho mantém a garra de iniciantes no palco, o que me fez lembrar do show dos Rolling Stones no Maracanã e do próprio Barão cantando "Satisfaction" num dos Hollywood Rock da Apoteose (meu Deus, sou do tempo em que empresas de cigarro patrocinavam os shows... ). Manter a sonoridade e a dignidade é para poucos. Não iria a um show deles se fosse para assistir a um acústico, como tantas outras bandas andaram fazendo... O que é bom não envelhece e Frejat sabe disso. Os trejeitos, as falas e a harmonia com o resto da banda continuam os mesmos.
Por falar em tempo (uma obsessão recente), é claro que passei boa parte dele observando a idade do público. Muitos casais e solteiros na faixa dos 30 aos 40 (meu caso), muitos jovens de 20 a 29, poucos adolescentes. O tempo passou e a maior constatação disso foi ter encontrado o irmão de uma amiga que não vejo há uns... dez anos! O pirralho que queria porque queria se infiltrar no nosso grupo, sair com a gente e que não se conformou por não ter ido com a turma ao Rock in Rio II (era 1991 e o Barão cancelara sua participação no show do dia 20 de janeiro - como esquecer a data? - a que eu assisti) fez Direito, é oficial de Justiça e está noivo!!! Mas me reconheceu, sinal de que minha carinha dos 19 aninhos ainda não mudou tanto assim. E eu ainda não comecei a usar o creme anti-rugas para mulheres de 30 que comprei recentemente...
***
Do repertório do Barão, a música abaixo é uma das que mais gosto. Composta por Cazuza, ela é dos tempos em que ele ainda era o vocalista. Mas é na voz de Frejat que o blues ganha um tom mais visceral. Eu a ouvi pela primeira vez no meu primeiro show deles, em Cordeiro, cidade serrana onde passei boa parte da minha infância. Frejat passava o som com a banda e eu já estava lá na primeira fila ouvindo a tal música. Curiosamente, ele usava uma calça jeans e uma camiseta preta, mesmo figurino da sexta passada no Circo. Um dos pontos altos dos dois shows.
DOWN EM MIM
(Cazuza)
Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
Nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto
Vão assistir comigo
A versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar a minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou me esquecer
Pois nessas horas pega mal sofrer
E da privada, eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E descobrir sorrindo que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down...
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home