Em 1999, eu trabalhava numa agência de comunicação que tinha clientes, majoritariamente, da área econômica (Shell, Telemar, CSN, entre outros). No fim do ano, o chefe trouxe a novidade: iríamos fazer a assessoria de imprensa da Mangueira. Eu era a única estagiária que gostava de samba e fui imediatamente escalada para integrar a equipe que cuidaria da nova conta. Meu trabalho seria ficar no barracão da escola, atendendo a imprensa e cuidando do carnavalesco. Mas a primeira missão seria no mesmo dia do anúncio: cobrir o show da verde e rosa no Canecão.
Para me "convencer" a ir, já que seria muito fora do meu horário e eu não ganharia hora extra por isso (eu entrava às 7h e saía às 13h), o chefe disse a frase mágica: "Chico Buarque vai estar lá". Eu sabia e nem titubeei. Antes do show começar, já estava a postos no Canecão, para o que desse e viesse. Estagiária, eu faria apenas um stand-by, já que as duas jornalistas titulares da conta estariam lá. Acho que era apenas um teste.
Mas aí o improvável aconteceu. (e meu professor Dênis sempre dizia que o jornalista precisa ter "sorte" na profissão). Chegou, atrasadésima, uma repórter da rede TV, implorando para entrevistar o Chico. Nessa hora, a equipe da Globo já tinha feito uma exclusiva e estava posicionada na frisa, pronta para fazer uma chamada dentro do Jornal da Globo. A repórter estava esbaforida, desesperada, alegando que perderia o emprego se voltasse para a redação sem a sonora do homem.
(até hoje, não sei se o que estava em jogo era mesmo o emprego ou os hormônios da repórter).
Como ninguém lhe dava muita atenção, eu tomei a missão como minha. Fomos para a porta do camarim. Pedimos a seguranças, assessores, o pessoal da produção, a qualquer um que por nós passasse, para tirar o Chico do camarim por dois minutos. A certa hora, Ele aparece. A moça se prepara para a entrevista, minha voz some.
Foi aquele instante em que a roda pára de girar, os ponteiros dos relógios deixam de funcionar, o mundo inexiste fora dali. Os olhos cor de ardósia na minha frente, eu estatelada, a moça entrevistando. Ela termina, eu tiro sorrateiramente o CD que havia levado na bolsa (era o ao vivo do show "As cidades"), cutuco o ombro dele com um dos dedos e peço, com o olhar, um autógrafo. Ele pergunta meu nome. Eu balbucio. Voz tenho certeza que não saiu. Ele deve ter lido meus lábios, já que escreveu o Cláudia certinho. Se tivesse lido meus pensamentos, e quisesse de fazer uma boa ação naquela noite, Chico teria me dado mais que o autógrafo...
*****
* Depois daquele dia, eu o vi apenas mais uma vez, no calçadão do Leblon. Eu já era estagiária do Globo, voltava de uma pauta com uma repórter de Economia e um da Folha, que vinha de carona no nosso carro. Balbuciei de novo: "Chico, ali". Ninguém ouviu.
* Meu namorado não deverá ter ciúmes desse post. Ele sabe que, com Chico, não é traição. É destino.
5 Comments:
Quando vc vai???
beijos!
By Neguinha Suburbana, at 6:30 PM
Vou no dia 13, sábado que vem. Faltam oito dias...
By Cláudia Lamego, at 7:46 PM
“Diante de Chico Buarque, todo homem é um corno em potencial”
Nelson Rodrigues
By bravomikefoxtrot, at 10:21 PM
Vou perder este, mas depois vou fazer um post sobre este encanto que atravessa gerações: Clarinha fica paralisada diante do dvd do Chico. É mole?
By Juli Mariano, at 5:49 AM
Clarinha honrando a nova geração de buarquianas!! Sensível esta menina, Juli!!
Sábio Nelson!!
By Cláudia Lamego, at 2:20 PM
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