Dezoito dias depois, a conversa que começou no Lamas chegou ao fim.
Esta semana também foi marcada por outro grand finale: minha formatura. Ela teve um sabor especial para minha família: desde 1993, meus pais não me viam receber um canudo sequer. Como todos sabem, entrei na faculdade para estudar Economia. Bem, não fui em frente, resolvi mudar para Comunicação. Enfim.
No dia que contei a novidade (a mudança de curso) para minha família, papai fez só uma pergunta, que me feriu muito (devo dizer): "quantos anos mais você vai ficar nessa Uff, minha filha?" Meus pais nunca entenderam minhas escolhas. O sonho deles era me ver de beca, com um canudo numa mão e um emprego público na outra. Mas não estamos aqui para atender expectativas, né?
Pois é, mas consegui vencer a resistência deles. Hoje, têm orgulho de ver meu nome escrito no jornal. Grandes coisas, mas pais são assim mesmo. No dia seguinte à formatura, ouvi minha mãe dar uns dez telefonemas. "Sabe, ontem fiquei tão emocionada quando chamaram minha filha (a jornalista Cláudia Lamego) no palco para receber o diploma." No fundo, no fundo, eu me senti feliz também. Ao receber o diploma (quer dizer, o certificado. o diploma não ficou pronto a tempo da cerimônia), meu professor Theodoro(um senhor de 70 anos que não falta às aulas, bate os textos de exercícios à máquina de escrever e nos recebeu uma vez em sua casa para uma longa entrevista ao Caroço) disse para mim: você realmente merece estar aqui, foi das minhas melhores alunas. Ai, meu Deus, para quantos ele disse a mesma frase? Se eu conheço bem o ácido e crítico Theodoro, que faz galhofa e não perdoa a menor falha de qualquer ser humano, o elogio foi sincero.
Muitos professores estavam lá, inclusive a Simone de Sá e o Afonso de Albuquerque, de quem fui bolsista. O Miguel, de fotografia também. No último dia de aula, ele entregou os trabalhos do curso e ao me ver, disse: ah, então você é a aluna que cita Glauber em todos os trabalhos? O Serra, que foi meu professor em duas disciplinas, mas que eu só me lembro de ter assistido duas aulas. Dizem que a melhor aula dele é num pé sujo de São Domingos, onde ele marca presença todas as noites.
Senti falta, mas tinha certeza de que eles não estariam lá mesmo, do Dênis de Moraes e da Sylvia Moretzson. Com ela, falei no dia por duas horas. Dele só tenho notícias por uma amiga de reportagem do Dia, que tem o Dênis como orientador. Ela me contou que ele fala muito das monografias sobre Glauber, Clarice Lispector e Murilo Mendes, que foram as três melhores que orientou. Bem, não preciso dizer que a glauberiana é a minha. Sem o Dênis, eu não teria feito aquele trabalho e não teria curtido tanto os quatro anos de Iacs. O Caroço e meus oito amigos também foram essenciais. Eles estavam todos lá. Hoje não são mais oito amigos, mas o que vale é o que ficou na história da faculdade, contada no anfiteatro, no estúdio de fotografia, na Elvira, na Cida, na rampa, na casa da Lili, da Lu, da Dê, no apê do Gu e do Jão, nas noites de cachaça, de poesia, amizade e vida.
Minha lista de convidados incluiu as pessoas que me são mais caras nessa vida: meus pais, minha afilhada Karine, meu irmão, Daniela e meu anjo João Gabriel, minha tia Tânia e ele, o outro responsável pelos quatro anos de amor durante o curso de jornalismo: meu ex-namorado, amigo, pai, irmão e companheiro de todas as dificuldades encontradas ao longo do percurso: Armando. A ele dediquei minha monografia, também o diploma. Sem ele, acho que hoje eu não estaria aqui sentada nessa cadeira do Globo, escrevendo essas linhas. Minha formação intelectual e humana se deve a essa pessoa que me amou, mas que não pôde ficar comigo pelo resto dos dias. Mas que no meu coração vai viver para sempre. Como um grande amigo.
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