Dia quente, ar-condicionado pifado, engarrafamento, sinal fechado. Condições ideais para o menino que surgiu do nada e ordenou que eu não tentasse fechar o vidro. "Solta o vidro, anda, solta, e me dá o dinheiro".
Não lembro do rosto dele, só que era um pouco maior que o carro. Ele era escuro como a noite, a cena, assustadora feito um pesadelo - daqueles em que o tempo não passa e as pernas não saem do lugar. Como num sonho, em que o despertar que quase nos faz cair da cama acontece de repente, a ação terminou sem que eu a compreendesse... um estalo e eu estava viva.
A realidade, infelizmente, é pior do que qualquer pesadelo. Vivemos sobressaltados, a tentar nos proteger em vão de perigos. Para quê tanto medo de passar pela Av. Niemeyer, evitar o Zuzu Angel e preferir a Linha Amarela se fui ser assaltada em Niterói, no horário de rush, com a cidade movimentada e sem guerra de traficantes?
Como no filme Elefante, do Gus Van Sant, não sabemos de onde surgirá a violência, mesmo sabendo que ela, a qualquer momento, vai acontecer. Conhecia o desfecho do filme, mas fiquei tentando adivinhar, logo no início, quem cometeria o insano ato de metralhar os colegas de colégio. Poderia ser a nerd cansada da beleza e futilidade das patricinhas, o menino com pai alcóolotra e tendências homossexuais ou até mesmo o garoto bonito, cansado do tédio do cotidiano.
Se acredito em destino? Não sei. Mas tudo estava fora do lugar na quinta-feira: eu havia marcado um encontro na faculdade, às 19h, justamente no horário que, por mudanças no trabalho, teria que chegar ao Globo naquele dia; não viria trabalhar de carro, mas mudei de idéia; não costumo passar pelo Centro àquela hora e até o tempo tinha mudado. Teria acontecido em outras condições?
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