Diários de viagem - Taxistas
Eles adoram falar de política e economia, são especialistas em Brasil, pessimistas, piadistas, solícitos e - o melhor - baratos. Em Buenos Aires, passeia-se de um lado a outro da cidade com poucos pesos, algum conforto e muito bate-papo.
Não sei se foi pura sorte, mas nos divertimos muito nas viagens de táxi. O motorista preferido foi o que mais falou de ... política. Depois de fazer uma análise sobre os últimos anos de governo no país, ele disse que seu filho ("as novas gerações não são mais politizadas") passou a gostar do assunto depois de participar do panelaço - que culminou com a renúncia de De la Rúa.
Politizado, como as velhas gerações, ele se disse em dúvida sobre os destinos do país governado agora por Néstor Kirchner - que tem sido mais duro que os outros presidentes nas negociações da dívida externa com o FMI. "Ainda não sabemos se ele se transformará num Lula. Vocês votaram numa pessoa e estão sendo governados por outra."
Politicamente equivocado, o único motorista que eu detestei foi um estudante de engenharia que sonhava em voltar a morar nos Estados Unidos, país de sua mãe. Não à toa, o rapaz - que disse ser contra a imigração porque os pobres da América Central só vão para a terra do Tio Sam para roubar - foi o único a nos dar uma grande volta: cobrou doze pesos por uma corrida que não passaria de oito. Roubar na América Latina vale, não?
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