Eu tinha acabado de ler as memórias de Apolônio de Carvalho, com o sugestivo nome "Vale a pena sonhar", quando um professor de História da UFF nos pediu para preparar um trabalho biográfico extenso sobre uma personalidade política do país. Com as informações frescas na cabeça e o encantamento de sua história na alma, escrevi sobre Apolônio. Sua vida é daquelas que nos faz ter orgulho da Humanidade. Apolônio, um dos maiores nomes da nossa esquerda, viveu por ela e para ela. Onde tivesse uma luta pela liberdade e contra a opressão ao ser humano, lá ele estava. Não importava a dificuldade e a distância: lutou tanto contra nosso ditador Getúlio contra o da Espanha, Franco. Juntou-se à Resistência francesa contra os nazistas e, já com 58 anos, foi banido do Brasil pela ditadura dos militares. Voltou com a Anistia e participou da fundação do PT.
Não bastasse a força e a coragem, Apolônio era um doce de pessoa. Daquelas que não se contradizem entre o discurso e a realidade. Era um homem de ação, que não se distanciava do próximo. Na festa de 22 anos do PT, no Rio, em 2002, tive a oportunidade de entrevistá-lo. Lula ainda não era o candidato oficial do partido e estava especialmente mal-humorado no dia. O Lulinha paz e amor apareceria só alguns meses depois, pelas mãos dolarizadas de Duda Mendonça. Apolônio, ao contrário, se mostrava otimista com a eleição. Com quase 90 anos, participou do evento ao lado de centenas de militantes, mesmo com dificuldade até de andar. Já debilitado pelo tempo, mas sorrindo. Ele se foi no pior momento da história do partido - e da política no país - que ajudou a fundar. Mas é a imagem do sorriso e da força que vou guardar dele e por ela interrompo o trabalho no meio do fechamento para deixar a minha mensagem de despedida. E uma pergunta, que não pude fazer: ainda vale a pena sonhar, Apolônio?
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