Dizer que José Dumont é a grande figura de Narradores de Javé é proclamar o óbvio. Eu vou além: sem ele, o filme não chegaria à metade do que é. O ator interpretou com excelência o escrevinhador que salvaria Javé da inundação capitalista, ajudou a diretora a montar diálogos, improvisando expressões hilárias e levou os não-atores a uma atuação verdadeira e cheia de emoção.
Além do mérito de ter escolhido tão bem o ator ideal para interpretar Antônio Biá, Eliane merece aplausos por ter segurado um filme que, a certo momento, parecia que ia afundar no aguaceiro das últimas cenas.
A estória da cidade que precisa mostrar seu valor histórico para tentar se salvar da inundação (Javé será varrida do horizonte para dar lugar a uma represa) tem seu ponto alto na discussão sobre a história oral. Biá é chamado a escrever os "feitos" dos fundadores de Javé e registrá-los num livro de ouro, com comprovação científica.
O engraçado é que cada morador conta o que sabe puxando a sardinha para o seu lado. O filme mostra, de maneira bem-humorada, como os entrevistados se portam diante de alguém que tem esse poder de registrar a história nas mãos.
Enfim, Narradores é um filme sobre o ofício de contar e a arte de escrever, com todos os seus defeitos e virtudes. Tão próximo à nossa realidade de cada dia...
Nota social: foi muito boa a estréia cinematográfica dos casais blogueiros. Qual será o próximo bom filme?
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