Lameblogadas

quarta-feira, junho 16, 2004



Não resisti ao passeio pela feira do livro, na Cinelândia, ontem. Finalmente, comprei o livro que achava que não ia querer ler: a biografia de Ayrton Senna. É difícil explicar o amor por um ídolo, parece coisa de adolescente, mas o fato é que ainda hoje, dez anos depois, não disfarço a tristeza e o inconformismo de ter assistido à sua partida.

Lágrimas rolaram já na leitura das primeiras páginas. Apesar de fã, eu não era do tipo das de fã-clube. Pouco sei sobre sua vida particular, a não ser aquilo que era noticiado nas páginas de esporte. O meu interesse mesmo era pelas corridas. Assisti-las nas manhãs de domingo era a maior diversão.

Depois que ele se foi, o trauma foi tão grande que parei de assistir não só aos grandes prêmios de Fórmula-1, como me desinteressei do esporte em geral: nunca mais Globo-Esporte, páginas esportivas dos jornais, jogos pela TV... Deixei de saber quem era o artilheiro do campeonato, o número 1 do tênis mundial, a escalação completa do time de basquete, as novas regras do vôlei. Não sinto falta de muita coisa, das partidas de vôlei, talvez...

Já contei que recomecei a acompanhar a Fórmula-1 por necessidade, quando passei a fazer os releases da Shell para as corridas. O trabalho acabou há muito tempo, mas o hábito foi reconquistado de vez. Daí a coragem para ler esse livro e reviver, dolorosamente, a paixão destruída naquela maldita curva de Ímola.

Um trecho do prefácio:

"Edite, minha mãe, fazia um esforço contagiante para me acompanhar diante da tevê naquelas manhãs de domingo, quando os grandes prêmios concidiam com meus fins de semana de descanso na cidade em que nasci, Lambari, no Sul de Minas. Mas era dona Leda, mãe de André Gesualdi, um grande amigo de infância, quem entendia de Fórmula 1 e de Ayrton Senna. Ela, o filho e o marido, Ismael, um médico que não largava de cigarros Hollywood, política, esporte e jornais, eram especialistas apaixonados.
Este livro começou a ser escrito quando atravessei a rua que separa a casa do meu pai da dos Gesualdi, e descobri que, além da paixão por Ayrton, dona Leda tinha guardado, ao longo de mais de 20 anos, na garagem em que eu e André jogávamos futebol de botão quando meninos, uma gigantesca preciosidade: dezenas de caixotes de papelão, com milhares de recortes de jornais e revistas cuidadosamente identificados. Tudo sobre Fórmula 1 e, em especial, Ayrton Senna. Era um tesouro. E o impulso definitivo para que eu, jornalista e apaixonado por automobilismo, mergulhasse de vez no antigo projeto de escrever o livro que nunca li sobre a vida de Senna.
Sempre achei que Ayrton, como personagem que conquistou um espaço único e extraordinário na alma dos brasileiros, merecia uma biografia abrangente, profunda e criteriosa. Sempre senti falta de um retrato de Senna como piloto, homem, filho, namorado, amigo e ícone do povo brasileiro. Ao mesmo tempo, eu também queria escrever um livro para quem continua perplexo e despreparado para o golpe que ainda aperta o peito, dez anos depois..." (Ernesto Rodrigues)