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segunda-feira, julho 04, 2005



Caso Celso Daniel

Quem assistiu ontem à entrevista do deputado Roberto Jefferson na Band, deve ter visto também reportagem sobre o obscuro caso Celso Daniel, que ganha novas cores agora que a estrela do PT anda embaçada pelas denúncias de corrupção. Primeiro, a observação: até agora, era difícil suspeitar do partido, completamente blindado pela bandeira da ética.

Uma das revelações da matéria é de que o prefeito de Santo André foi barbaramente torturado antes de morrer. Segundo os promotores de São Paulo que investigam o assassinato, Daniel possuía um dossiê com informações sobre desvio de dinheiro e corrupção na prefeitura e teria sido pressionado a entregá-lo, mas resistiu e acabou morrendo a bala. Matéria do GLOBO do último dia 26 mostrou que havia a suspeita deste dossiê ter sido entregue a Daniel pelo seu então secretário, hoje chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho.

O Jornal da Noite, programa comandado pelo jornalista Roberto Cabrini, teve acesso ainda a fitas contendo diálogos entre Carvalho, o deputado Eduardo Greenhalgh (PT-SP), designado pelo PT para acompanhar as investigações, Klinger Oliveira Souza, secretário de Assuntos Municipais da prefeitura de Santo André, e com Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, empresário de ônibus indiciado por ter encomendado a morte do prefeito.

**Os diálogos:

Sombra conversa com Gilberto Carvalho

Gilberto: “Marcamos às 3h na casa do Zé Dirceu. Vamos ter uma conversa, conversar um pouco sobre nossa tática da semana. Porque nos vamos ter que ir para a contra-ofensiva”

Sombra: “Eu vou falar com meus advogados amanhã. A nossa idéia é colocar esta investigação sob suspeição, arrumar um jeito de...”

Gilberto: “Acho que esse é um bom caminho...”

Greenhalgh conversa com Gilberto Carvalho

Greenhalg: “Olha, deixa eu te falar. Está chegando a hora do João Francisco (irmão de Celso Daniel) depor. E antes do depoimento quero conversar com você para ele não destilar ressentimentos lá”

Gilberto: “Pelo amor de Deus, isto vai ser fundamental. Tem que preparar bem isto aí, cara. Porque este cara vai... tudo bem”

Klinger conversa com Sombra

Sombra: “Fala com o Gilberto aí. Tem que armar alguma coisa cara”

Klinger: “Não cara, calma, calma. Eu to indo pra aí pra gente conversar sobre isso”

Sombra: “Eu to calmo! Eu quero que as coisas sejam resolvidas. Eu to calmo!”


As gravações contidas nas fitas obtidas pela reportagem da Band foram feitas a pedido da Justiça para investigar outro caso, da CPI do Narcotráfico. Elas tinham sido destruídas pelo juiz Rocha Mattos, preso e acusado de liderar um quadrilha que praticava extorsões no Poder Judiciário.

A reportagem teve acesso ainda a cartas escritas por um detento endereçadas ao presidente e a outras autoridades em que ele dizia que o crime fora encomendado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e planejado dentro das prisões paulistas. A equipe tentou ouvir o detento, mas a administração peninteciária de SP não permitiu o acesso, mesmo com a autorização da Justiça.

O PT sempre defendeu a tese de crime comum para o assassinato. O irmão do prefeito, João Francisco Daniel, ao contrário, insiste na tese do crime político. "O Gilberto Carvalho me disse numa conversa lá em casa que ele pegava o dinheiro arrecadado para o financiamento das campanhas do partido e encaminhava ao Zé Dirceu”, afirmou à Band.

Essas notícias ganham credibilidade agora que o mar de lama parece afogar a história do PT. Vê-se hoje que quando o PT tenta desmerecer ou encobrir qualquer tentativa de investigação de algum caso, é porque tem algo a esconder mesmo. Não custa nada lembrar do velho ditado de quem não deve não teme.


** Diálogos reproduzidos do site www.diegocasagrande.com.br