Lameblogadas

terça-feira, julho 04, 2006



Eu tinha prometido acabar a série "Lameblogadas na Copa", mas a coluna do Dapieve de hoje e a notícia publicada na Folha sobre a farra dos derrotados em Barcelona me fez voltar atrás. Não há muito o que comentar. Ronaldinho Gaúcho e Adriano "comemoraram" a volta para casa numa noitada na Espanha. Gaúcho, o melhor do mundo, ofereceu uma festa em casa, com pagode e hip hop. Mais tarde, curtiu a noite com o Imperador numa boate. Nenhum dos jogadores pediu desculpas pela má atuação. O que eu queria escrever sobre isso está hoje na coluna do Dapi, no Globo de hoje, principalmente nos últimos três parágrafos:

Cachorros mortos

Contei até 11, como na escalação favorita de Parreira. Depois contei mais uma vez. E de novo. Fiz isso nos últimos três dias, para tentar não chutar cachorros mortos. O problema é que, após o vexame coletivo na Alemanha, é difícil diferenciá-los dos cachorros vivos. Talvez a carrocinha tenha levado não só os velhos cães sem dono, a quem não se podia ensinar novos truques, mas toda a ninhada. Para mim, os únicos que jazem sem sombra de dúvida em Frankfurt são a comissão técnica e os laterais que tinham “a carta”, Cafu e Roberto Carlos. O capitão hereditário, porém, recusase a aceitar como encerrado seu ciclo na seleção. Alguém, por favor, meta uma bala de prata no peito desta criatura! Ok, ok, escapou um chutezinho, um “confere”.

Neste exercício de especulação futebolística, acrescento ao cemitério os que terão estourado os 30 anos na época da próxima Copa, o que infelizmente inclui Dida, Lúcio, Juan e Zé Roberto, de atuações dignas. Ainda pegam a barca de Caronte canina Rogério Ceni, Cris, Emerson, os Gilbertos, Mineiro, Juninho e Ricardinho. Já Ronaldo, 15 gols, 33 anos e sabe-deus-quantos quilos em 2010 navega de primeira classe, por serviços prestados.

Preocupa-me o futuro da seleção, preocupam-me os cachorros sobreviventes, muito machucados. Começo pelo candidato à braçadeira de Cafu, Kaká. Sou contra. Kaká é um rapaz extremamente religioso. Pessoas extremamente religiosas não falam palavrões. E um capitão às vezes tem que falar o diabo para seus companheiros. Sobretudo se eles forem tão apáticos quanto o próprio meia do Milan foi em quatro de cinco jogos na Alemanha.

Kaká, por sinal, já estará na terceira Copa em 2010. Terá 28 anos. Ou seja: alguns integrantes da “jovem guarda” de 2006 - que rachou com a “velha guarda”, está claro agora - não serão mais tão jovens assim na África do Sul, além de estarem estigmatizados como frouxos. Os reservas Júlio César e Cicinho, por exemplo, serão até trintões.

Igualmente Ronaldinho Gaúcho, se sobreviver aos ferimentos. Taí um cachorrinho que se queimou paca. Parece-me um caso terminal de belo jogador de clube. Barcelona, mas clube. Afinal, aquele saudado como rei, mito, lenda viva, sequer apareceu para jogar bola na Copa da Alemanha. Quem sabe no festival do filme publicitário de Cannes?

Sobrariam do Brasil de 2006 para o de 2010: estes dois meias sob suspeita (Kaká e Ronaldinho Gaúcho); um atacante queimado (Adriano); dois bons atacantes que ainda terão 26 anos (Robinho e Fred); um goleiro, um lateral e um beque já rodados (Júlio César, Cicinho e Luisão). Não dá um time. Renovação, portanto, é imperativo, não opção.

Continuaremos revelando talentos, tenho certeza. Contudo, como fazê-los formar uma equipe de verdade e, mais especificamente,
uma, desculpe, mas eu vou gritar, EQUIPE BRASILEIRA? No que a expressão implica de solidariedade e arte. Temo, por exemplo, pelo atacante Lenny, do Fluminense, hoje com 18 anos. É técnico e abusado, pinta como craque. Onde estará em 2010? Deslumbrado com a
própria propaganda, defendendo um clube estrangeiro, dando tapinhas nas costas do adversário? Ou seja, será preciso renovar também a mente - mas como renovar a mente do país inteiro, do qual essas levas de garotos são apenas mais um retrato? Respostas daqui a quatro anos.

P.S. Eu queria falar também sobre esses concursos da Fifa e os interesses escusos do futebol marketeiro de hoje. Num sei se terei fôlego.

P.SII: Por que não tive o privilégio de ser contemporânea a Nelson Rodrigues? A essa hora, ele estaria aqui pela redação do Globo excomungando os jogadores e escrevendo pérolas sobre a nossa seleção com letra minúscula...