"Cinema, aspirinas e urubus" é o melhor filme em cartaz no Rio atualmente. Pena que pouca gente o tenha assistido. É o que constato em conversa com os amigos e na própria trajetória da película no circuito: saiu do Odeon para o Paissandu, Estação Barra Point e a Casa França-Brasil. Como não conheço os bastidores do mercado, fico sem saber por que ele não está no Arteplex ou na Voluntários da Pátria. Acho que isso poderia ter ajudado...
Concretamente, sei que o seu diretor, o pernambucano Marcelo Gomes, manifestou preocupação com a hipótese de o título de seu filme afastar espectadores. Em entrevista a Rodrigo Fonseca, do Globo (o jornal tem, finalmente, um crítico com o qual me identifico quase totalmente), ele contou a estranheza de um taxista em relação ao nome do filme. Minha sogra também teve a mesma reação quando contei que tinha vindo da sessão de "Cinema, aspirinas e urubus". O próprio repórter, em matéria sobre a quantidade de brasileiros no circuito, escreveu que o lado ruim da história seria a dispersão do público. Lamento que estas "previsões" estejam se confirmando, pois não consigo achar outras explicações para a falta de repercussão do filme.
1942. Um alemão, que fugiu da Segunda Guerra na Europa, viaja pelo sertão projetando filmes publicitários sobre a droga que chegara para acabar com as dores do povo. Vendedor de aspirinas, ele encontra personagens desses recantos nordestinos que, não fosse o filme anunciar que se trata de uma história passada em 1942, poderiam ser encontrados ainda hoje. A Paraíba das locações é mostrada na crueza exata de sua realidade. Mas o filme não tem a pretensão de discutir pobreza nem situação social dos personagens. Sua dimensão é humana. É no encontro entre duas pessoas, o alemão e um nordestino em diáspora para a "capital", que ele mostra sua força. O ator baiano João Miguel, o qual eu reconhecera como o farmacêutico assaltado em "Cidade baixa", é nada menos que fantástico. Sua estréia me fez lembrar a de Wagner Moura, outro grande ator da "nova geração".
O road-movie sertanejo de Marcelo Gomes é engraçado, bonito e envolvente. Saí do Odeon com a sensação de ter assistido a um clássico da nossa sétima arte, num ano de grandes produções brasileiras. Agora, me sinto na obrigação de pedir a todos os amigos: por favor, assistam ao filme.
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