Lameblogadas

terça-feira, agosto 24, 2004



Finalmente assisti ao Fahrenheit 11 de setembro. Agora, posso extravasar a minha indignação com o júri do Festival de Cannes: como decidiram premiar aquela mistura de propaganda eleitoral bizarra com o que há de pior no programa do Casseta e Planeta?

Com um maravilhoso arsenal de informações e imagens nas mãos, Michael Moore optou por transformar o documentário num panfleto, mas a manipulação (assumida) ficou tão gritante que tudo perdeu a credibilidade. Ora, para ridicularizar George W. Bush bastava mostrá-lo como ele é, sem apelos ou humor barato. Para tentar derrubar o presidente americano, era preciso apenas expor os fatos e as provas de suas informações.

No plano "artístico", nada se salva. Ou alguém ainda consegue rir com o palhaço do Moore abordando congressistas americanos para convencê-los de mandar seus filhos lutarem no Iraque? Nem mesmo os assessores de um deles leva a palhaçada a sério. Riem despuradoramente do seu Casseta americano. Ou se comover com as montagens simplórias que opõem um Iraque feliz, com crianças brincando na praça, e um país destroçado pela guerra insana de Bush?

Como qualquer programa eleitoral de um Nizan Guanaes ou um Duda Mendonça, Fahrenheit tem cenas que mostram as mazelas de uma cidade, depoimentos de personagens sacrificados pelo "sistema" e, o mais importante - e desperdiçado em piadas sem graça - , algumas provas convincentes de relações perigosas entre políticos, empresários e os donos do poder.

Moore tinha um ótimo material em mãos, inclusive imagens de depoimentos de soldados americanos que mal sabem o que estão fazendo no Iraque, mas a sua vontade de aparecer é maior que a de tentar mudar o mundo. Aliás, os Estados Unidos. Porque, como qualquer americano médio que ele usa para ilustrar suas teses mal provadas, seu mundo se restringe ao território onde vive. Eu discordo de quem acha que ele usa métodos desprezíveis, mas pelo menos está do lado "bom" da força. Circunstancialmente, está. Mas isso não o engrandece em nada, não ajuda o mundo a ficar melhor nem resulta em bom cinema.