Lameblogadas

sábado, maio 06, 2006



Foto de Tasso Marcelo/Agência Estado

Tudo bem, até eu estou um pouco cansada de tanta exposição. Mas é como o velho ditado, estou tratando de me lambuzar bastante de Chico. Nunca se sabe quando ele voltará com tantas imagens, entrevistas, DVDs, músicas inéditas, capas de jornal, um show. Para completar o pacote Chico Buarque 2006, chegou às lojas o novo CD com um DVD dos bastidores da gravação - que pretendo conferir assim que sair do plantão do jornal hoje.

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Aproveitei o momento buarqueano e quebrei uma resistência antiga: comecei a ler Budapeste anteontem. Por princípio, nunca aceitei ler nada dele com medo de me frustrar com um lado do Chico menos genial que o musical. Não espero encontrar uma obra-prima da literatura (deve ser um Chico menor, diria o pai dos meninos do filme "A Lula e a Baleia"), mas adianto que o livro já me pegou. É daqueles que nos faz ter vontade de chegar em casa logo para reiniciar a leitura...

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Enfim, o que mais quero é que meu amor volte do Sul e arranje um tempo para assistirmos aos DVDs novos que repousam em minha estante cheia de referências. É que já os comprei há umas três semanas, mas, amar é, não assisto sem ele do meu lado. Ele também não, apesar de se irritar um pouco com um suspiro ou outro durante a sessão.

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Nota sobre o plantão

Há somente uma vantagem em se trabalhar no sábado e no domingo. É que na sexta ficamos livres do pescoção - a dupla jornada da sexta à noite, quando alguns afortunados ficam na redação para deixar pronto o jornal de domingo (depois de fechar o de sábado, naturalmente...) A partir das 22h, 23h ver aquelas páginas todas em branco, matérias para ler, encaixar na fôrma, titular, legendar... Num horário em que a cabeça começa a pensar no cinema de amanhã, na manhã perdida para o cansaço... Do pouco que o jornalismo tem de ruim, o pescoção é o pior. De resto, adoro isso aqui.

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Nota, a contragosto, sobre Garotinho

A greve de fome do diminutivo que governa o Rio e a pinta da governadora (que não se constrange em aparecer em público vestida como se ainda fosse uma dona-de-casa campista) que no papel exerce o cargo são o retrato de um Rio que os cariocas não querem ver, mas ainda vão ter que aturar por algum tempo - se nada for feito. Quem andou com a governadora pelo estado e conheceu o modo de fazer política dessa gente é que entende, não necessariamente se conforma, o que é o Rio de Janeiro hoje. Uma republiqueta que vive de glórias passadas e com um futuro cada vez mais sombrio pela frente.

Pior: por contraditório, Garotinho também é um personagem do passado, dos tempos da Baixada Fluminense de um Tenório Cavalcanti, dos tempos de um Jânio Quadros, que fazia beicinho quando se sentia contrariado por correligionários e que renunciou a um mandato popular com amplo apoio político ("A UDN de porre", cunhou Lacerda). Agora, o ex-governador resolveu incitar os seus contra o jornal O Globo. Ontem, quando chegava para trabalhar fui testemunha de um ataque de uns dez rapazes com tintas e ovos à portaria do jornal. À noite, um homem numa moto voltou a atacar a empresa jogando uma bomba tipo cabeça de nego na portaria. Onde é que estamos? Na década de 50, quando a Tribuna da Imprensa foi destruída por fanáticos seguidores de Getúlio? Nos confins do Nordeste, onde o coronelismo se moderniza mas continua o mesmo de décadas atrás (Árido Movie está aí para nos mostrar como ainda funciona a política nos cafundós)? Não, no Rio de Janeiro de Garotinho e Rosinha. Quem vai sair por último?? Espero que não sejamos nós.


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Boa notícia: Ricardo Kotscho agora é contratado do jornal e estréia amanhã sua primeira reportagem no Globo. Kotscho é uma espécie de militante da boa e velha reportagem, um alento para o jornalismo nesse momento em que o jornal impresso é cada vez menos lido e que seu futuro como produto começa a ser questionado. Em debate sobre a mídia, semana passada, na UFRJ, Kotscho lançou a questão Tostines: os jornais estão em crise porque não têm dinheiro para produzir grandes reportagens Brasil afora ou sofrem da falta de dinheiro justamente por causa da falta delas? No debate, ele contou que em viagens pelo interior do país, principalmente no Nordeste, descobriu que a crise do mensalão, Delúbios e Jeffersons e todos os personagens de escândalos recentes passam longe da população. Em nenhum lugar por onde passou, viu qualquer indignação, qualquer preocupação com essa política feita em Brasília, que os jornais cobrem tão bem, mas que está cada vez mais distante da realidade de quem vive fora dos corredores de prédios públicos e redações. Vida longa aos repórteres!!!