Lameblogadas

sábado, maio 25, 2002

Esta noite dormi mal. Acordei com uma tosse chata, atrasada, e quase bati com o carro duas vezes. Pudera: tinha que chegar no centro da cidade às 10 da matina e às 9h45min estava engarrafada na Francisco Bicalho, com o agravante de estar me dirigindo ainda para o jornal. Tinha que sair de táxi e não tinha um real no bolso. No caixa automático, retirada indisponível. Tudo estava dando errado sem eu entender o porquê. Ainda por cima, fui fazer uma matéria chatinha, chatinha. Cheguei na redação nervosa, com o rosto afogueado. Calor, frio. Sensações indefinidas. Três reportagens para escrever.
Somente no fim do dia entendi a mudança brusca de humor, temperatura e pressão: era a TPM. Normalmente sinto sua chegada com antecedência. Trabalhei tanto essa semana que mal tive tempo de pensar.
Só para registrar: estou há uma semana sem tomar o Frontar.
Fui.

quarta-feira, maio 22, 2002

Sempre admirei os poetas. Comecei a conviver com alguns deles quando entrei na faculdade de jornalismo. Ah, os poetas... nunca entendi como conseguem transformar o cotidiano em poesia, a poesia em vida. Vivem a poesia como se, fora dela, nada mais tivesse importância. Eu tenho uma amiga poeta, quer dizer, poetisa. Ela mora num prédio ao lado de minha casa. Quando preciso de lirismo vou à janela e inspiro o ar que a poetisa expirou. Vejam o nome e concluam: Olívia Bandeira de Mello. É ou não nome de poeta? A poesia começa no nome, não acham? Assim que a vi, pensei, invejosamente: é uma poeta. O olhar emite poesia, o corpo miúdo e perfeito exala poesia, a boca fala poesia. É poeta, sim, é poeta. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que ela é uma poeta enrustida. Explico: Olívia Bandeira de Mello é poeta mas não mostra sua poesia. Esconde. Nós, os amigos mais próximos, tivemos poucas oportunidades de ler ou ouvir a poesia da Olívia. É um mistério. Sentimos e vemos, mas não lemos a poesia de Olívia. Faço aqui um apelo: Olívia, mostre-nos seus textos. Precisamos da poesia da Olívia. Enquanto ela não publica, para os amigos, sua poesia, contento-me em pescar versos na internet. Nesse caso, os de um outro grande poeta da língua portuguesa: Fernando Pessoa.

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Meu amigo individual deixou de blogar, mas continua escrevendo. Estou tentando convencê-lo a voltar. Enquanto ele não se decide, cedo um espaço em meu blog para uma crônica do Daniel. Aproveitem, é o texto abaixo.

AS COISAS SIMPLES E AS COMPLICADAS DA VIDA

Avenida Rio Branco. Último banco do ônibus. Um sujeito pede indicações sobre como andar no bairro da Gávea, respondo parcialmente. Ele numa janela eu noutra. Entra um terceiro, senta no meio. Traz um violão ou guitarra ou baixo a tiracolo.
Largo dos Leões. O rapaz do instrumento musical se levanta para saltar. Eu também. Olho o homem na outra janela, quero lhe dizer algo como "boa sorte" ou "boa tarde" talvez. Ele está ao telefone, nada digo. Mas vejo uma carteira de dinheiro no banco do meio. O rapaz que vai saltar estava bem ali. Lá na frente do ônibus lhe devolvo o objeto. Ele agradece, logicamente. Para mim, um ato tão simples. Difícil é imaginar as complicações que ele teria se perdesse a carteira. Documentos, cartões, segundas vias.
Coincidentemente, saltamos juntos e andamos lado a lado por algumas dezenas de metros. Ele agradeceu outras vezes e, ao atravessar a rua, fez questão de apertar minha mão.

terça-feira, maio 21, 2002

O jornalismo é uma droga!
Explico: não sei se alguém leu uma crônica que o João Ximenes Braga escreveu no caderno Ela sobre as drogas da nova (a dele e a minha) geração. Senti-me aliviada ao descobrir que não era a única dependente de remédios antidepressivos e para dormir. Comecei a tomá-los no fim do ano passado e identifiquei-me com os pós-modernos estressados e oprimidos do texto de Ximenes.
Trabalho, amor, dinheiro. Tudo mal resolvido. Solução: Frontal e ... caramba, esqueci o nome do remédio para aplacar a tristeza (o primeiro a ser abandonado!!!).
Quando comecei a ingeri-los deixei de tomar aquela cachacinha no seu Osvaldo, a cervejinha na Elvira e o vinhozinho na Argumento. Minha vida não melhorou muito por causa deles, então. A amorosa, então, nem se fala. Parece que foi castigo do deus Baco: meu coraçãozinho partiu-se. Sem pão de queijo, doce de leite e ruas íngremes de mão dupla a tristeza instalou-se.
Em compensação, a vida profissional ficou parcialmente resolvida. Até setembro, pelo menos, tenho emprego, salário (pequeno, vá lá) e diversão garantidos. Com pouco mais de quinze dias na Nacional, do Globo, deixei de tomar o Frontal. Já se passaram quatro dias de liberdade e ainda não sofri nenhuma crise de abstinência. Descobri nesse pouco tempo que o trabalho, quando feito com amor e prazer, supera as dificuldades (e são muitas nessa profissão) e torna-se tão embriagante quanto um bom livro, uma conversa no seu Osvaldo (com direito a Salinas e trilha) com amigos, uma visita a um pedaço de Minas que mora na Pereira da Silva, um fim de semana entre árvores e passarinhos ou uma música de Noel Rosa.
O jornalismo é uma droga que me faz desmaiar na cama quando chego em casa à noite (pode ser na madrugada) e só acordar no dia seguinte. Sem Frontal para atrapalhar os bons sonhos.