Lameblogadas

sexta-feira, junho 18, 2004




"Por trás de um homem triste/Há sempre uma mulher feliz/E atrás dessa mulher/Mil homens, sempre tão gentis" ("Deixe a menina", 1980)

Qual a mulher que não se apaixona pelo cara que escreveu versos assim? Ao ouvi-los pela primeira vez, (as primeiras vezes com o Chico foram assombrosas), eu caí apaixonada. Os olhos azuis, a boca vermelha e perfeitamente desenhada, o corpo em forma, o charme, enfim, todo o resto eu percebi mais tarde, bem depois de despertada a consciência política - intensificada pela descoberta de suas letras - quando ele se tornou uma obsessão de fazer perder a voz.

Ao chegar perto pela primeira vez, mal pude fazer a mímica: "me dá um autógrafo neste CD". Dizer meu nome foi um sacrifício de pesadelo, daqueles em que não conseguimos nos pronunciar, nos mexer, sair da inércia...

Hoje, véspera do seu aniversário, tão celebrado por todos, estou frouxa de rir. Ao abrir o Segundo Caderno de manhã e ver sua foto na praia, com os pêlos eriçados (alguém mais reparou que sua pele está arrepiada pelo vento?) e uma forma física de fazer inveja, agradeci a Deus por ser mulher, brasileira e ter vivido no Rio em sua época.

quarta-feira, junho 16, 2004



Não resisti ao passeio pela feira do livro, na Cinelândia, ontem. Finalmente, comprei o livro que achava que não ia querer ler: a biografia de Ayrton Senna. É difícil explicar o amor por um ídolo, parece coisa de adolescente, mas o fato é que ainda hoje, dez anos depois, não disfarço a tristeza e o inconformismo de ter assistido à sua partida.

Lágrimas rolaram já na leitura das primeiras páginas. Apesar de fã, eu não era do tipo das de fã-clube. Pouco sei sobre sua vida particular, a não ser aquilo que era noticiado nas páginas de esporte. O meu interesse mesmo era pelas corridas. Assisti-las nas manhãs de domingo era a maior diversão.

Depois que ele se foi, o trauma foi tão grande que parei de assistir não só aos grandes prêmios de Fórmula-1, como me desinteressei do esporte em geral: nunca mais Globo-Esporte, páginas esportivas dos jornais, jogos pela TV... Deixei de saber quem era o artilheiro do campeonato, o número 1 do tênis mundial, a escalação completa do time de basquete, as novas regras do vôlei. Não sinto falta de muita coisa, das partidas de vôlei, talvez...

Já contei que recomecei a acompanhar a Fórmula-1 por necessidade, quando passei a fazer os releases da Shell para as corridas. O trabalho acabou há muito tempo, mas o hábito foi reconquistado de vez. Daí a coragem para ler esse livro e reviver, dolorosamente, a paixão destruída naquela maldita curva de Ímola.

Um trecho do prefácio:

"Edite, minha mãe, fazia um esforço contagiante para me acompanhar diante da tevê naquelas manhãs de domingo, quando os grandes prêmios concidiam com meus fins de semana de descanso na cidade em que nasci, Lambari, no Sul de Minas. Mas era dona Leda, mãe de André Gesualdi, um grande amigo de infância, quem entendia de Fórmula 1 e de Ayrton Senna. Ela, o filho e o marido, Ismael, um médico que não largava de cigarros Hollywood, política, esporte e jornais, eram especialistas apaixonados.
Este livro começou a ser escrito quando atravessei a rua que separa a casa do meu pai da dos Gesualdi, e descobri que, além da paixão por Ayrton, dona Leda tinha guardado, ao longo de mais de 20 anos, na garagem em que eu e André jogávamos futebol de botão quando meninos, uma gigantesca preciosidade: dezenas de caixotes de papelão, com milhares de recortes de jornais e revistas cuidadosamente identificados. Tudo sobre Fórmula 1 e, em especial, Ayrton Senna. Era um tesouro. E o impulso definitivo para que eu, jornalista e apaixonado por automobilismo, mergulhasse de vez no antigo projeto de escrever o livro que nunca li sobre a vida de Senna.
Sempre achei que Ayrton, como personagem que conquistou um espaço único e extraordinário na alma dos brasileiros, merecia uma biografia abrangente, profunda e criteriosa. Sempre senti falta de um retrato de Senna como piloto, homem, filho, namorado, amigo e ícone do povo brasileiro. Ao mesmo tempo, eu também queria escrever um livro para quem continua perplexo e despreparado para o golpe que ainda aperta o peito, dez anos depois..." (Ernesto Rodrigues)



Contagem regressiva

Daqui a uma semana, me mudo para a Nacional, onde participarei da cobertura das eleições municipais de 2004. Só volto ao Bairros em dezembro, depois de tirar merecidas férias.



A música do dia, de Roque Ferreira, uma das mais bonitas de seu CD "Tem samba no mar", do selo Quelé. O cantor baiano se apresenta em julho no Centro Cultural Carioca. Estaremos lá.

Quebradeira de coco (Roque Ferreira)

Quem quiser ver a tristeza
Do jeito que Deus criou
Olhe os olhos do menino
Carregando o andor
Lá dentro tem um corumba
Todo enfeitado de flor
A dor batendo zabumba
E dando viva ao senhor
Quebradeira de coco babaçu ê yá
A dor é um coco ruim de quebrar
Menino assustado no meio do mundo
Busquei refúgio em seus braços
Água de brilho falso
Lamaçal no fundo
Se eu fosse fazer farinha
Que nem você faz sofrer
Não tirava ladainha
Pra Deus não se aborrecer
Quebradeira de coco babaçu ê yá
A dor é um coco ruim de quebrar
Lá no meu interior
Tem uma coisa que não tem nome
Quando eu dou nome à coisa
A coisa some
Menino que coisa é essa?
Ele me respondeu: - é fome!
Quem quiser ver a tristeza
Do jeito que Deus criou
Olhe os olhos do menino
Carregando o andor
Lá dentro tem um corumba
Todo enfeitado de dor
A dor batendo zabumba
E dando viva ao senhor

terça-feira, junho 15, 2004



Tão pequetitinho, mas já perspicaz... Meu sobrinho João Gabriel gosta de brincar de Fórmula-1. Enfileira todos os carrinhos no corredor do apartamento, inicia a corrida e grita, logo no início: "Titia, Rubinho bateu"

Tem dois anos o meu pequeno.

domingo, junho 13, 2004



Donana na política

A experiência de cobrir campanhas políticas já rendeu muitas crônicas a este blog. Entre outros, ele foi criado com este objetivo mesmo: o de contar as situações engraçadas, inusitadas e até bizarras que eu vivia no dia-a-dia como repórter na cobertura das eleições presidenciais e estaduais de 2002.

Hoje, eu estava numa desanimada prévia do PSDB, para escolha do candidato a vice na chapa do Cesar Maia, quando avistei ninguém menos que a inesquecível atriz Narjara Turetta. O que ela estava fazendo ali, pensei, lamentando a falta de uma máquina digital para registrar esse momento histórico.

"Ela é candidata a vereadora pelo partido, Cláudia", me contou o coleguinha do Dia, surpreso com a minha curiosidade excessiva. Que aumentou muito quando ele me disse que tinha feito uma matéria com ela recentemente. "Ela é vendedora de coco, trabalha em frente ao prédio onde mora, em Copacabana". Pára tudo! Como eu e os freqüentadores da famosa Cantina Donana ainda não sabíamos disso?

Pois é, nem só de seu passado como filha de Regina Duarte no Malu Mulher e coadjuvante em novelas das seis vive a mais famosa atriz lado B da cultura brasileira. Falando sério agora, ela sobrevive de seu trabalho honesto. Pelo menos, não anda roubando bolsas por aí...