Lameblogadas

sábado, agosto 10, 2002


“Tem dias que a gente se sente/como quem partiu ou morreu/ a gente estancou de repente/ou foi o mundo então que cresceu.” (Roda-viva, do meu Chico)

A felicidade estava em casa e eu não sabia...

O que fazer para transformar um sábado num dia agradável? Como mulher, acho que uma boa ida ao shopping com o cartão de crédito zeradinho é a melhor maneira. Não dá certo sempre, paciência. Aquela calça que se estava procurando não deu, o número 40 ficou apertado, o 42, largo... Ainda resta ver se tem em outra filial. Não, melhor deixar para a próxima. As roupas, de repente, estão o olho da cara. As vendedoras, bem, é aquele blá blá blá eterno: ficou lindo, ela cede com o tempo, ficaria super bem com aquela blusinha rosa ali, vou pegar pra você, espera um instantinho. Adianta dizer que não quer? Lá vem ela com um monte de roupas e acessórios que estão “super na moda” e que são a “sua cara”, vão cair “super bem”. O jeito é sair de fininho e deixá-la falando sozinha...
Se a roupa não coube mesmo, melhor partir para um lanchinho básico: baguete com média num cyber café. Chiiiique!!! Demora e mais impaciência. A garçonete explica que "na loja hoje está todo mundo estressado”. Meu Deus, no dia em que as coisas não vão lá muito bem escolhemos logo um lugar onde está dando tudo errado pras outras pessoas também. Alívio: a comidinha chega perfeita. Tudo terminaria na mais perfeita ordem psicológica se a amiga não reparasse que o lugar é freqüentado por muitas “pessoas mais velhas”. É verdade, ué, já passamos da época de ir ao Mc Donald’s. Com o paladar mais apurado e a conta bancária de adulta, normal que escolhamos um lugar assim, diria, mais calmo. Balzac, lá vamos nós nos aproximando da melhor idade...
Enfim, em novo giro encontro uma blusinha que ficou “super bem”, de acordo com a vendedora e com o espelho (um parêntese para dizer que não há nada mais aterrorizante que um espelho de loja: reflete a melhor (?) visão das celulites), e com um ótimo preço. Ao sacar o cartão, a informação macabra: “só aceitamos se você comprar um mínimo de sessenta reais.” Não adiantava discutir.
Que tal irmos embora? No caminho de volta, os planos. Vamos sair mais tarde, ligar para mais amigas, enfim, fazer a noite salvar o dia. Aqui uma confissão: mulheres recém-separadas adoram sair juntas para afogar as mágoas, dizem que vão fazer e acontecer, que a noite vai ser do caralho, vão beber muito e, quem sabe, conhecer pessoas (digo: novos homens) maravilhosas. Nada disso acontece. Ou, por outra. Um dia, pode até ser. Mas quando algo muda de verdade, acaba sendo num dia inesperado, sem planos e em lugares nunca dantes imaginados.
Em vez do chopp e da cachaça, suco de maracujá. De novos parceiros, os antigos. Isso mesmo: a conversa gira, invariavelmente, em torno daquele filho da puta que nos deixou sozinhas, que não soube valorizar a mulher que tinha, que é, enfim, um desgraçado de quem não conseguimos nos esquecer facilmente. Depois do primeiro round de xingamentos, os pedidos de conselhos. “E aí, mas você acha que ainda temos alguma chance de dar certo? Será que ele vai mudar um pouquinho? Você acredita nisso mesmo? É melhor esperar ele ligar? O que? Devo ligar logo?”
Pois é, ao voltarmos mais cedo para casa, descobrimos que o melhor mesmo era ter ficado nela, colocado aquele disco do Paulinho da Viola, visto o filme (sobre as mulheres e o amor) que deixáramos alugado e comido aquele moranguinho com leite condensado esquecido na geladeira.

Bar Luiz, 07 de agosto. Folha, Estadão e Globo reunidos. Alguns chopps, novos amigos, Lula, Brizola e eleições.
Lapa, mesmo dia, horas mais tarde. Lágrimas, sono e ônibus.
Icaraí, meia hora depois: casa, passiflora e cama.
Dia seguinte: ressaca.


“A economia mundial está ‘bombando’ e ele não sabe nem falar inglês. Vou votar no Ciro, esse entende de economia e sabe se expressar.” (De um coleguinha, ao explicar porque não votará em Lula)
Como diria o Xexéo: então, tá.

Cinelândia, 02 de agosto, comício do Garotinho e da Rosinha.

A matéria era para ser sobre a arrancada, acabou sendo sobre a queda. Não estava mais lá, mas senti a dor pelos amigos que despencaram. No dia seguinte, para quem se recuperou logo, virou piada. Para aqueles poucos que continuaram sentindo dor, virou pesadelo. Espero que não aconteça de novo, tenho medo porque estamos sujeitos a palanques lotados, militantes enfurecidos, políticos falsos e meios de transporte precários o tempo inteiro nesta campanha.


Carioca da Gema, 02 de agosto, centenário de Carlos Cachaça.

“Não quero mais amar a ninguém
Não fui feliz, o destino não quis
O meu primeiro amor
Morreu como a flor
Ainda em botão
Deixando espinhos que dilaceram o meu coração”
(...)
Foi simples sonho que passou
E nada mais” (Não quero mais amar a ninguém, de Zé da Zilda, Cartola e Carlos Cachaça)

“Quem me vê sorrindo
Pensa que estou alegre
O meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração

O que eu verti por esse amor talvez
Não compreendeste e se eu disser, não crês
Depois de derramado, ainda soluçando
Tornei-me alegre, estou contente

Compreendi o erro em toda humanidade
Uns choram por prazer e outros com saudade
Jurei a minha jura, jamais eu quebrarei
E todo pranto esconderei”
(Quem me vê sorrindo, de Cartola e Carlos Cachaça)

Esse post tinha tudo para ser uma homenagem a um grande poeta de nossa música, Carlos Cachaça, no dia em que comemoraria seus 100 anos de idade, mas INFELIZMENTE ficará como o registro do fim de algo que tinha tudo (ou nada) para ser bom (ou ruim), mas que simplesmente não foi.