Lameblogadas

sábado, abril 30, 2005

Da série "Ídolos do cinema"



Sean Penn



“Eu tinha qualquer coisa como andar de costas, quando todos andam de frente. Qualquer coisa como gritar, quando todos calam. Qualquer coisa que ofendia os outros, que não era a mesma deles e fazia com que me olhassem vermelhos, os dentes rasgando as coisas, eu doía neles como se fosse ácido, espinho, caco de vidro" (Caio Fernando Abreu) *

* Da resenha do amigo Marcelo Moutinho publicada hoje no Prosa e Verso.

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Pequenas epifanias só daqui a um ano...



"Mas quem lhe disse que os fios do relógio não desfilam em pequenas janelas retangulares onde vejo cada minuto cair sobre mim tão bruscamente quanto a lâmina de uma guilhotina?"

Italo Calvino, em "Se um viajante numa noite de inverno"

sexta-feira, abril 29, 2005

Ainda do magnífico "O Visionário":

METADE PÁSSARO

A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio.
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos.
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

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* Um arrependimento: não ter comprado, por falta de grana, a obra completa do autor, publicada pela Nova Aguilar.

** Um conselho: jamais deixem de se endividar por um livro muito querido. Ou passarão anos, depois, sofrendo com o sumiço dele das estantes de sebos e livrarias.

*** Uma dúvida que dói: estará próximo o momento de começar a me desfazer de alguns livros?



Por Guignard

"Sem esperança não surge o inesperado."
Murilo Mendes

À viagem para Juiz de Fora, terra de um dos escritores preferidos:

CHORO DO POETA ATUAL

Deram-me um corpo, só um!
Para suportar calado
Tantas almas desunidas
Que esbarram umas nas outras,
De tantas idades diversas;
Uma nasceu muito antes
De eu aparecer no mundo,
Outra nasceu com este corpo,
Outra está nascendo agora,
Há outras, nem sei direito,
São minhas filhas naturais,
Deliram dentro de mim.
Querem mudar de lugar,
Cada uma quer uma coisa,
Nunca mais tenho sossego.
Ó Deus, se existis, juntai
Minhas almas desencontradas

(Murilo Mendes, "O Visionário")



SÚCUBO

A lucidez de certos sonhos
que nem parecem reais,
tal como faz a realidade.

Entra-se neles de repente,
não no começo, sem saber
de onde se vem e aonde se vai,

e pouco a pouco dá-se conta
de que há um sentido nisso tudo,
só que não está ao nosso alcance,

e quando menos se imagina
tudo termina de repente,
tal como faz a realidade.

(Paulo Henriques Britto, Macau)

quinta-feira, abril 28, 2005



Glauber Rocha

Cada vez que vejo Deus e o diabo na terra do sol, elejo uma cena diferente como a melhor. A de ontem foi a do beijo entre Corisco (Othon Bastos) e Rosa (Yoná Magalhães) ao som das Bachianas de Villa-Lobos.

Tem coisa mais bonita que aquela música?

"Há feridas que não se curam, apenas se esquecem de doer. Há alegrias que não se completam, mudam de vento."

Fabrício Carpinejar *

* do Pentimento, blog do amigo Marcelo Moutinho, com a inspiração de sempre - para todos os dias.



É amanhã!!

Finalmente vou ao show da amiga Juli, amanhã, no bar do Tom. Recomendo aos amigos.

Amiga, já disse que gostei de você à primeira vista, não? Pois é, desde aquele primeiro abraço num dos nossos encontros pelas ruas de Paraty, durante a Feira Literária, tive a certeza que minha impressão fora correta. Adoro você!

quarta-feira, abril 27, 2005



Canção para os dois anos

Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra)

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava

Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço

Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva

Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes

segunda-feira, abril 25, 2005



http://www.moidsch.com

Para um amor no Recife
(Paulinho da Viola)

A razão porque mando um sorriso
E não corro
É que andei levando a vida
Quase morto
Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue
E sepultar bem longe
O que restou da camisa
Colorida que cobria
Minha dor
Meu amor eu não me esqueço
Não se esqueça por favor
Que voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo este tempo passe
Para beijar você




GP de San Marino, Ímola

Foram as melhores dez voltas dos últimos tempos na Fórmula-1. Schumacher, enfim, encontrou um adversário capaz, com um bom carro, de impedir o seu show solitário na categoria. Como nos velhos tempos da briga Senna x Prost, o coração dos telespectadores apaixonados voltar a palpitar na velocidade do carros.

Havia quem achasse que Alonso ia errar por causa da pressão, mas o piloto espanhou resistou, mostrou que pode quebrar a hegemonia que entedia o esporte há dez anos. Que venha o GP de Barcelona, com seus pontos de ultrapassagem e tudo. Vamos torcer para ouvir a Marselhesa mais uma vez.

E que a família Lamego (vovô Carlos, papai Caio, titia Cláudia e João Gabriel) consiga se reunir para assistir às corridas pelo menos uma vez.



Foi uma chuva que passou em nossas vidas...

Misturar as lágrimas do rosto à água que vem do céu, ouvindo sambas como o postado aí embaixo, olhando para o lado e vendo amigos especiais molhados dos pés à cabeça, mas com o sorriso de alma lavada no rosto.

Essa experiência, a de assistir a um show do Paulinho da Viola na praia e debaixo de chuva, deveria acontecer pelo menos uma vez na vida de cada pessoa.


Timoneiro
(Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho)

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz



P.S. Esse post e todas as lágrimas que eu derramar a partir de hoje - e para sempre - são em homenagem ao meu pai.



SONETO DO CORIFEU

São demais os perigos desta vida
Para que tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua


Vinícius de Moraes

Rio, 1956 (Da peça Orfeu da Conceição)