Lameblogadas

sábado, maio 21, 2005



Foto de Paulo Barreto (que não é o João do Rio)

Eu, no Centro de Estudos Murilo Mendes, num dos melhores momentos da viagem a Juiz de Fora, onde fui levar a monografia da amiga Lili sobre o poeta.
Na parede, o poema predileto, já publicado aqui, mas que vale a repetição. Pelo momento deslumbrante da descoberta da poesia como possibilidade...

PRÉ-HISTÓRIA

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém.
Cai no álbum de retratos.

sexta-feira, maio 20, 2005

Música para a sexta-feira, na voz de Clara
do CD Brasil mestiço

CORAÇÃO EM CHAMA
(Elton Medeiros e Mauro Duarte)

Porque eu vivo triste agora
pergunto ao coração que chora
se tenho um grande amor
então por que sofrer
Prá que me perguntar
Devia compreender
Talvez venha a ser infeliz
Todo aquele que ama
Pois tem o coração em chama
muito embora amando tanto
vivo derramando lágrimas
oh! meu pranto
chegue ao fim
não tente apagar essa chama
desse amor que existe em mim



Na cabeceira...

"Movido por um instinto profundo, sempre procurei sacralizar o cotidiano, desbanalizar a vida real, criar ou recriar a dimensão do feérico. Para isso precisamos em certos casos de cúmplices; se nem sempre acertamos, é que às vezes os cúmplices falham.
...De resto penso que fomos feitos para pesquisar o que existe de humano em Deus, e de divino no homem."



Reunião do Caroço
e esse poema tem tudo a ver com nosso passado de poeteiros no casarão...

Patagônia (Pablo Neruda)

As focas estão parindo
na profundidade das zonas geladas,
nas crepusculares grutas que formam
os últimos focinhos do oceano,
as vacas da Patagônia
se destacam do dia
como um tumulto, como um vapor pesado
que levantam no frio sua quente coluna
para as solidões.

Deserta és, América, como um sino:
cheia por dentro dum canto que não se eleva,
o pastor, o llanero, o pescador
não têm uma mão, nem uma orelha, nem um piano,
nem um rosto perto: a lua os vigia,
a extensão os aumenta, a noite os espreita,
e um velho dia lento como os outros, nasce.

quinta-feira, maio 19, 2005



ELE

Zé Renato se apresenta amanhã no Projeto Semente da Música Brasileira no Democráticos. Acompanhado do Trio Madeira Brasil (Ronaldo do Bandolim, Zé Paulo Becker no violão e Marcello Gonçalves no 7 cordas), Beto Cazes (percussão) e Carlos Cesar (percussão). A noite tem participação especial de Daniela Spielman (sax e flauta).

quarta-feira, maio 18, 2005



Sexta nos cinemas. Mal posso esperar.



A RESPOSTA

"A mulher não deseja dar a resposta. Quer ser antecipada, sonhada, imaginada. Tanto faz que ele erre. Deseja ser sondada, visitada, pressentida. A mulher deseja ser adivinhada. A mulher não deseja a resposta certa, não há resposta certa. Deseja ser a resposta que o homem procura fora dela."

Fabrício Carpinejar, mais uma vez. A íntegra do texto está no blog do escritor: http://www.carpinejar.blogger.com.br/



Com açúcar, com afeto
(Chico Buarque)

Com açúcar, com afeto
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa
Qual o quê
Com seu terno mais bonito
Você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário
Vai em busca do salário
Pra poder me sustentar
Qual o quê
No caminho da oficina
Há um bar em cada esquina
Pra você comemorar
Sei lá o quê

Sei que alguém vai sentar junto
Você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias
De quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo
Sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo
Vai bater um samba antigo
Pra você rememorar

Quando a noite enfim lhe cansa
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão
Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado
Maltrapilho e maltratado
Ainda quis me aborrecer
Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você



Picasso


As lições de R.Q.

Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.

Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.

Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo.

(Manoel de Barros, de novo em Livro sobre nada)




"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito"

Manoel de Barros em Livro sobre nada

terça-feira, maio 17, 2005

Belezas de Minas - II



Do disco Claridade, da caixa-presente...

Ninguém tem que achar ruim (Ismael Silva)

De mim você não tem razão
de se queixar
Assim você faz confusão
No nosso lar
Se eu sou do samba ninguém tem
que achar ruim
Você me conheceu
vivendo assim
(vem cá meu querubim)

Não vá pensar
Que dança, música e bebida enfim
Apareceram exclusivamente para mim
Você também se por acaso
Numa farra entrar
Talvez até ocupe o meu lugar
(e sem se demorar)



Na voz de Bethânia


Samba da bênção
(Vinícius de Moraes e Baden Powell)

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

segunda-feira, maio 16, 2005



de Camille Claudel

O CASAL

Ela só vê filmes no Estação, ele adora um Cinemark;
Ela vai direto para o quarto, ele fica fazendo sala;
Ela teve mãe 24 horas; ele foi criado com babá;
Ela cresceu no subúrbio, ele, na Zona Sul;
Ela torce pelo Vasco, ele é Botafogo;
OS DOIS ADORAM FÓRMULA-1.

Ele gosta de churrascaria, ela, de bistrô;
Ele suspira pela Débora Falabella, ela, pelo Zé Renato;
Ele se amarra em comida portuguesa, ela prefere a japonesa;
Ele é carioca, ela é fluminense;
Ele ama quindim; ela, doce de leite;
OS DOIS GOSTAM MUITO DE RISOTO.

Ela gosta de Godard, ele, de futebol;
Ela vai à praia de carro, ele, de ônibus;
Ela dorme cedo, ele acorda cedo;
Ela curte ficar em casa, ele ama a rua;
Ela gosta de perna grossa, ele usa calça larga;
OS DOIS TORCEM PELA PORTELA.

Ele usa verde-musgo, ela é toda colorida;
Ele prefere a multidão, ela, a solidão;
Ele sonha conhecer metrópoles, ela, sertões;
Ele quer fazer shows, ela, filhos;
Ele economiza pra ir a Paris, ela, pra casar;
OS DOIS SE AMAM.

Ela é Proust, ele, Baudelaire;
Ele tem colesterol alto, ela, pneumotórax;
Ela quer fazer Mestrado, ele, discos;
Ele quer lábios grossos, ela tem;
Ela quer cabelos lisos, ele tem;
MAS OS DOIS SE SEPARARAM.



Dez coisas boas da vida - mesmo quando a vida não está muito boa

* Dirigir à noite no Aterro;
* Revelar fotos de um dia extremamente feliz;
* Morar a dois prédios do Antônio (mistura divina da Lili e do Marcelo);
* Ver o Pão de Açúcar da janela (ainda que pela metade);
* Deitar na areia, olhar para o alto e ver a cor preferida;
* Dormir depois da praia com o cabelo molhado e com o corpo banhado em hidratante perfumado;
* Acordar e ver um filme do Woody Allen, outro com o Robert Redford;
* Abrir a geladeira e encontrar uma dezena de frutas;
* Descobrir o novo sabor do doce de leite com biscoito cream cracker;
* Passar o dia do aniversário do pai com ele em casa.

Da série "Belezas de Minas" *




Tudo bem, ninguém deve votar pelo mesmo motivo que esse blog publica a foto de Aecinho... mas que seria muito interessante cobrir uma campanha em Minas, ah seria... Ainda mais para quem está acostumada a correr atrás de Garotinhos, Césares e Rosinhas!

* OBS: Esse post não tem ideologia. :-)