Lameblogadas

segunda-feira, agosto 22, 2005



Angelo Antonio em "2 filhos de Francisco"

"Formadores de opinião vivem defendendo as massas, mas detestam tudo de que as massas gostam. Se nenhum bacana for ver meu filme, mas sim aqueles que me ajudaram a vender 22 milhões de cópias, não ficarei triste. Banana pra quem não vir o filme por preconceito." (Zezé di Camargo ao Rio Show)



Antes de tudo, confesso: já fui a um show do Leandro e Leonardo e tive discos da dupla. Os dois primeiros LP's para ser mais precisa. Mas o que me levou ao cinema na quinta passada não foi um resquício de admiração pela música sertaneja (tá, dancei e cantei umas duas músicas no showmício do Leandro para a campanha do atual prefeito petista de Niterói, evento no qual vi e entrevistei José Dirceu pela primeira e única vez). Nem o ingresso gratuito que ganhei num sorteio aqui no Globo e que dava direito a uma pipoca e um refrigerante durante a sessão. A propaganda me pegou. Vinha lendo críticas há quase um mês e estava, no mínimo, curiosa em ver como se filma a vida de dois astros populares, assim como Nelson Pereira dos Santos fizera outrora num filme que nunca tive a oportunidade de assistir.

Não gosto de Zezé di Camargo e Luciano, tenho até trauma por ter sido obrigada a cobrir três showmícios da dupla em campanhas do PT de 2002 e 2004. Só de pensar que o PT se endividou ainda mais para pagar as apresentações dos dois... tudo bem, o PT talvez nem mereça mais minha depressão política. O fato é que o super-elogiado "2 filhos de Francisco" é um filmaço, desses que nos aproximam de Hollywood no que ela tem de bom: contar bem as maravilhosas histórias reais que os homens de sua terra protagonizam.

No filme brasileiro, esse homem é Francisco. Assim como muitos pais já quiseram transformar seus filhos em Ronaldinhos ou em Pagodinhos, Francisco quer tirar os filhos da roça e o único caminho que encontra para isso é transformá-los em artistas. A música é a salvação e ele faz todo tipo de sacrifício pelo seu sonho, até deixar de pagar uma dívida com o sogro para comprar violão e sanfona para os meninos. O castigo é ter que entregar o pequeno sítio onde vive e levar os filhos numa carroça para a cidade. Meu avô fez algo parecido: com dez filhos a tiracolo pegou o trem do interior do estado e chegou em Niterói para morar na casa da irmã que já tinha uma vida melhor do lado de cá. A lembrança da história da minha mãe me fez gostar do filme imediatamente e me emocionar ainda mais com ele.

Mas não foi só isso. "2 filhos de Francisco" é uma história genuinamente brasileira, contada por um diretor com olhar acurado de documentarista e que expõe na tela nossa ditadura vista de esguelha pelos protagonistas, nosso coreto do interior, a ignorância do povo simples, o político que faz campanha com "minishowmício" na praça, o trabalhador rural e o da cidade, a mulher que chora ao ver os filhos com fome. E mais: o elenco é muito bom e impressiona pela semelhança dos atores com os personagens reais. Os dois meninos que interpretam Zezé e o irmão Emival, primeiro a dividir os vocais com ele, estão tão bem que dá pena quando o tempo passa e eles somem da tela.

O filme faz chorar, a história é triste em boa parte. Mas também tem cenas hilárias. Uma das melhores é quando eles ensaiam uma música nova, composta por um tio. Nessa primeira tomada, eles perguntam ao seu Francisco o que é "nação". O pai desconversa e dias depois leva os dois meninos para cantar a música num programa popular de rádio. Eles começam a cantar e a letra vai se revelando, aos poucos, altamente subversiva, com fortes críticas ao Exército, instituição que, eles não faziam idéia, governava o Brasil naquele momento. O apresentador expulsa os três do estúdio quase a caneladas e os meninos chegam em casa lamentando não saber o significado de tirania, um dos adjetivos usados para classificar os milicos na canção sertaneja. A ignorância política e histórica da família que vivia isolada num pedaço de terra no interior de Goiás é um dos retratos mais contundentes do nosso país mostrados no filme. Outra cena engraçada é a que revela que os showmícios para o PT não foram a estréia de Zezé e seu primeiro irmão no mundo das campanhas políticas. Eles aparecem cantando um jingle tosco para o candidato à prefeitura de Pirenópolis. Muito bom!

E assim, entre risos e lágrimas, Breno Silveira vai dirigindo nossos sentimentos, conduzindo o filme de forma simples, mas sem cair na pieguice, contando a história de brasileiros que venceram por causa da luta de um homem que se achou no direito de dar uma vida melhor aos filhos. Nem que pra isso precisasse fraudar o concurso de uma rádio, comprando milhares de fichas de telefone para ligar e influenciar a votação da melhor música do dia. O sucesso posterior de "É o amor", a despeito daqueles que não gostam, e o fim dessa história mostra que sua intuição estava certa.

domingo, agosto 21, 2005



Ao vivo

Sexta-feira quebrei um jejum de quase dez anos sem ir a um show de rock e fui ao Circo Voador assistir ao Barão Vermelho. Parecia ter voltado no tempo. Frejat, Rodrigo Santos (baixo), Fernando Magalhães (guitarra), Perninha (percussão), Maurício Barros (teclados) e Guto Goffi (bateria) fizeram um show antológico, recheado dos maiores clássicos da banda e com uma homenagem muito especial ao seu ex-vocalista Cazuza. "Convidado especial" da noite, Cazuza dividiu os vocais de Codinome beija-flor com Frejat. Muita gente foi às lágrimas.

Era noite de gravação do segundo DVD da banda. O cansaço (passara o dia inteirinho em frente à Petrobras esperando a saída do ministro Antonio Palocci do prédio), o calor e o pouco espaço para movimento na pista não abalaram minha alegria. O Circo, onde o grupo iniciou sua carreira, estava lotado. Bem antes do show começar, já gritávamos em coro "Barão, Barão, Barão". Pareciam os velhos tempos, quando eu encontrava as pessoas de sempre na fila do gargarejo. Até Frejat, do palco, parecia reconhecer o fã-clube, sorrindo, acenando e posando para as fotos. É muito engraçado identificar os fãs apaixonados e suas épocas. A menina ao meu lado que sabia de cor só os sucessos de meados dos anos 90, o cara da frente que, como eu, cantava as músicas oitentistas menos conhecidas...

O tempo passou e o Barão Vermelho mantém a garra de iniciantes no palco, o que me fez lembrar do show dos Rolling Stones no Maracanã e do próprio Barão cantando "Satisfaction" num dos Hollywood Rock da Apoteose (meu Deus, sou do tempo em que empresas de cigarro patrocinavam os shows... ). Manter a sonoridade e a dignidade é para poucos. Não iria a um show deles se fosse para assistir a um acústico, como tantas outras bandas andaram fazendo... O que é bom não envelhece e Frejat sabe disso. Os trejeitos, as falas e a harmonia com o resto da banda continuam os mesmos.

Por falar em tempo (uma obsessão recente), é claro que passei boa parte dele observando a idade do público. Muitos casais e solteiros na faixa dos 30 aos 40 (meu caso), muitos jovens de 20 a 29, poucos adolescentes. O tempo passou e a maior constatação disso foi ter encontrado o irmão de uma amiga que não vejo há uns... dez anos! O pirralho que queria porque queria se infiltrar no nosso grupo, sair com a gente e que não se conformou por não ter ido com a turma ao Rock in Rio II (era 1991 e o Barão cancelara sua participação no show do dia 20 de janeiro - como esquecer a data? - a que eu assisti) fez Direito, é oficial de Justiça e está noivo!!! Mas me reconheceu, sinal de que minha carinha dos 19 aninhos ainda não mudou tanto assim. E eu ainda não comecei a usar o creme anti-rugas para mulheres de 30 que comprei recentemente...

***

Do repertório do Barão, a música abaixo é uma das que mais gosto. Composta por Cazuza, ela é dos tempos em que ele ainda era o vocalista. Mas é na voz de Frejat que o blues ganha um tom mais visceral. Eu a ouvi pela primeira vez no meu primeiro show deles, em Cordeiro, cidade serrana onde passei boa parte da minha infância. Frejat passava o som com a banda e eu já estava lá na primeira fila ouvindo a tal música. Curiosamente, ele usava uma calça jeans e uma camiseta preta, mesmo figurino da sexta passada no Circo. Um dos pontos altos dos dois shows.

DOWN EM MIM
(Cazuza)

Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
Nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão

Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar

E as paredes do meu quarto
Vão assistir comigo
A versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar a minha cara
Com certeza você já foi embora

Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou me esquecer
Pois nessas horas pega mal sofrer

E da privada, eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E descobrir sorrindo que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados

Eu ando tão down
Eu ando tão down...