Lameblogadas

sexta-feira, janeiro 30, 2004



Adoro músicas que falam de casamentos, brigas e amores. "O casamento dos pequenos burgueses" é uma de minhas preferidas. Ainda hoje me lembro do encantamento ao ouvi-la pela primeira vez. Por mil motivos, ela me marcou muito. Por ontem eu ter, finalmente, comprado o disco da "Ópera do Malandro" (o antigo, não o novo), ela é postada aqui hoje.

O casamento dos pequenos burgueses

Ele faz o noivo correto
Ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a casa caia
Até que a casa caia

Ele é o empregado discreto
Ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo teto
Até explodir o ninho
Até explodir o ninho

Ele faz o macho irrequieto
Ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo teto
Até secar a fonte
Até secar a fonte

Ele é o funcionário completo
Ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo teto
Até trocarem tiros
Até trocarem tiros

Ele tem um caso secreto
Ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo teto
Até casarem os filhos
Até casarem os filhos

Ele fala de cianureto
Ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo teto
Até que alguém decida
Até que alguém decida

Ele tem um velho projeto
Ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo teto
Até o fim dos dias
Até o fim dos dias

Ele às vezes cede um afeto
Ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo teto
Até um breve futuro
Até um breve futuro

Ela esquenta a papa do neto
Ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a morte os una
Até que a morte os una

quinta-feira, janeiro 29, 2004



Quem nasce lá na Vila...

Outro dia, descobri que meu amigo Daniel Moutinho passou parte da infância em Vila Isabel e que até compôs um samba sobre o bairro de Noel. Vou reproduzir seu depoimento (autorizado!), que achei muito interessante, e o samba, composto em 1997.

"Este mundo de condomínio da Barra não gera grandes recordações, mas os passeios com vovô pela 28 de setembro eram inesquecíveis. Eu era completamente
apaixonado pelo bairro, pelas conversas do vô nas esquinas, ele que tinha mais amigos por metro quadrado naquela área. Então eu gostava da Vila no carnaval - ainda mais que eles foram campeões em 88. Aliás, se numa dessas andanças jornalísticas ou sambísticas você encontrar o Martinho, diz que eu tenho um samba pra ele musicar. É assim.


LEMBRANÇA DE CRIANÇA

Vila Isabel

Terra minha e de Noel
De Aldir e de Martinho
Do Petisco e do chopinho

Do bolinho de bacalhau
Iguaria tradicional
Da colônia portuguesa
Muito alegre, com certeza
Orgulhosa certamente
Da boemia sorridente
Que ajudaram a construir
E fizeram progredir
Vila, o teu nome é de heroína
Ser boêmia é tua sina
Vila, das calçadas musicais
E dos jogos ilegais
Eu jamais te esquecerei
Pois por ti me apaixonei
Na infância que aí passei

(D.Mouta, 1997)

quarta-feira, janeiro 28, 2004



Tem-se lutado

Parabéns aos brasileiros indicados às quatro categorias do Oscar. Cidade de Deus é um bom filme, com grandes efeitos especiais e roteiro redondo, comparável aos feitos em Hollywood.

Um crítico na época do lançamento comparou o filme a uma passeata pela paz na Zona Sul. Ou seja: inócuo, incapaz de intervir na realidade que retrata. Concordo, mas ao assisti-lo num cinema cheio de adolescentes, em Icaraí (zona nobre de Niterói), entendi que a sociedade tem que querer mudar junto. O público naquele dia encarou Cidade de Deus como um filme de ação que poderia se passar em qualquer lugar do mundo. Aqueles estudantes em férias saíram dali para o Mc Donald's mais perto, sem se dar conta que a verdadeira Cidade de Deus estava muito próxima deles. Eu me pergunto: eles queriam enxergar?

O cinema brasileiro evoluiu muito na década de 90, sendo capaz de criar produtos tecnicamente impecáveis. Assim vamos solidificando nossa indústria e esperando que as inúmeras tentativas rendam bons clássicos. E que aparecem novos e grandes diretores. E que a sociedade esteja pronta para recebê-los. Estou ansiosa pra ver Narradores de Javé.




Chocolate com baunilha

Esse é o sabor do meu namoro com o Pedro

Os nove meses vividos com você, meu amor, foram tão fofos e gostosos como esse bebê. Te amo!!!

segunda-feira, janeiro 26, 2004



Aninha e Marcelo, os pais da Clarinha, em Ilha Grande

Ainda na série "Nunca te vi...", o outro samba do Wilson Moreira que eu adoro e posto aqui em homenagem ao pai da Clarinha - cujo chá de fraldas animou com uma bela roda de samba o Bip Bip no sábado - com um pedido: Goldenstein, você tem que cantá-lo na próxima.

Quintal do céu (Wilson Moreira e Jorge Aragão)

Um bangalô... no mais lindo canto da cidade
Um grande amor... para completar minha felicidade
Canção de poesia, primasia
A inspiração toma conta de mim
Meu coração, acende o interior
A luminosidade é a luz do nosso amor
A luminosidade é a luz do nosso amor

Quintal do Céu, porta aberta ao recebê-la
Estrela, divina luz
Da janela ao vê-la a fé conduz
A um poema que hoje eu mesmo fiz
Vem me fazer feliz
Sentindo assim... meu interior

A luminosidade é a luz do nosso amor
A luminosidade é a luz do nosso amor

Da série "Nunca te vi sempre te amei"

Dois sambas que eu adoro do tal disco do Zeca são do mestre Wilson Moreira. Uma delas:

Judia de mim (Zeca Pagodinho e Wilson Moreira)

Judia de mim, judia
Seu eu não sou merecedor desse amor
Se eu choro
Será que você não notou
É a você que eu adoro
Carrego esse meu sentimento
Sem ressentimento
É, a cana quando é boa
Se conhece pelo nó
Assovio entre os dentes
Uma cantiga dolente
Entre cacos e cavacos
Sobrei eu, duro nos cascos
Bem curtido pelo cheiro dos sovacos
Judia de mim...
E quem dança qualquer dança
Na bonança não sabe o que é
No falso amor leva fé
Quem de paz se alimenta
Se contenta com migalhas
Não se aflige
E corrige
As próprias falhas



Num dia de 1986, quando eu tinha 11 anos, mamãe saiu para comprar "uns discos de pagode". Fui junto. De samba, lá em casa, só tinha os discos das escolas, sendo o primeiro o do carnaval do "Bum bum baticumbum prucurundum". No pacote, trouxemos o primeiro solo de Zeca Pagodinho, que tocou muito na minha vitrola vermelha da infância.
Dezoito anos depois, paixão por Zeca consolidada, eu me emociono ao redescobrir aquele disco que trazia sambas escondidos na minha memória. Por isso, assistir ao seu show no Metropolitan (ops, Claro Hall) foi dos melhores programas da semana agitada que passou.
O melhor momento do show, que teve a participação de Cauby Peixoto foi o final, quando Zeca levou seus amigos partideiros ao palco, Arlindo Cruz e Dudu Nobre entre eles. Eles cantaram juntos os clássicos dos meus 11 anos e levantaram a platéia, já delirante. Hoje eu vou postá-los aqui. Começando pela música que o meu amor não tira da cabeça.

Casal sem-vergonha (Arlindo Cruz e Alcyr Marques)

A minha vida é um mar de rosa
Em tua companhia
Brigamos mil vezes ao dia
Mas depois das brigas
Retorna a harmonia
Às vezes ela é dengosa
Às vezes é bicho de peçonha
Sem vergonha
Somos um casal sem-vergonha
Sem-vergonha
Somos um casal sem-vergonha

Nós brigamos por ciúme
Costume, queixume
Ou coisas banais
Não quero que ela fume
Ela quer que o perfume
Que eu use não cheire demais
Brigamos quando sou bravo
Brigamos até quando banco pamonha
Eu já disse porque meu bem
Sem-vergonha
Somos um casal sem-vergonha

Às vezes ela provoca
E às vezes sou eu o provocador
Quando fazemos as pazes
Nós somos os ases na arte do amor
Mesmo brigando esperamos por muitas
visitas da dona cegonha
Eu já disse porque meu bem
Sem-vergonha
Somos um casal sem-vergonha

domingo, janeiro 25, 2004



Ilha Grande, Pedro Paulo e Cláudia Lamego, início de namoro...

Viajando com a música

Estava sábado, por volta das 19h, no teatro III do CCBB. Mas me senti como se na foto acima estivesse. No mar, guiada pelo som e voz do compositor Roque Ferreira, daqueles que já se conhece a música, ainda não o nome.

No show "Bahia de todos os sambas", que teve a presença no palco das cantoras Jussara Silveira e Dona Ivone Lara, e do showman baiano Riachão, sua participação foi o ponto alto da apresentação.

Roque Ferreira é uma das figuras mais importantes do samba-de-roda baiano e da chula, gênero parecido com o primeiro, mas com um toque de viola e letras mais longas. Sua música me encantou. Saí do CCBB com vontade de tocar para a Bahia, terra que guarda um pedacinho da minha alma...