Boemia...
Quando criança, eu detestava serestas. Por que? Achava tudo coisa de velho. Estava sempre com sono, circulando entre pessoas que não faziam parte de meu mundo, ouvindo uma música pesada, que eu não entendia, em vozes empoladas demais. Me lembro desses recitais na casa de um vizinho velho, casada com uma moça jovem (40 anos mais nova, para ser mais específica), mas que gostava de coisas velhas (hoje eu também gosto de coisas velhas!!!). Ele era festeiro, todo aniversário levava amigos com violões, contratava seresteiros e dá-lhe música de velho até de madrugada.
Morávamos numa casa de vila, e os vizinhos eram muito amigos, trocavam favores, saíam juntos, convidavam para festas, socorriam os doentes, as crianças que passavam mal. Esse casal, quando se mudou para a vila, causou um certo, diria, impacto. As vizinhas faladeiras se incomodaram com a diferença de idade, os shortinhos curtos da moça que já tinha filho do velho. Bobagem que durou pouco. Ela conquistou todas as senhoras, talvez por ser uma também, apesar da idade.
Esse vizinho era um dos mais queridos. Toda vez que fazia peixe, levava uma posta para mim, junto com o pirão. Como cozinhava bem! No Natal, deixava uma garrafa de vinho na porta dos outros. Era o mais jovem da rua, mesmo com a idade avançada. Tinha o espírito de um menino. Mas gostava de música de velho. Tanto que, toda vez que eu entrava em seu carro, ouvia seu cantor predileto: Nelson Gonçalves!
Até outro dia, antes de ler a biografia de Noel e procurar tudo que diz respeito ao meu compositor predileto, eu associava Nelson Gonçalves às serestas do meu vizinho e ao rádio de seu carro. Eu gostava do vizinho, mas detestava a música. Jovem tem necessidade de rejeitar o gosto dos mais velhos, não é? Aliás, jovem não. Adolescente chato! (nessa época da vida, eu ouvia metaleiros, era meio revoltada e totalmente alienada)
Pois bem, no site do Instituto Moreira Salles, que passei a freqüentar (na falta da caixa completa do Noelzinho) ultimamente, encontrei gravações de Nelson Gonçalves preciosas. Gostei e acabei comprando dois discos do "Metralha" (apelido que ganhou por ser inteiramente gago quando estava longe do microfone). Um deles é da Revivendo, "Nelson Gonçalves canta Noel Rosa e Herivelto Martins". Nele, desfila seu vozeirão por clássicos como "Quando o samba acabou" e "Só pode ser você". Mas é do disco com Raphael Rabello, que também comprei esta semana, que tiro a letra de um samba lindo de Noel para postar. "Pra esquecer" está também no maravilhoso CD "Cachaça dá samba", de uma certa dupla que estimo muito (Pedro Paulo Malta [lindo, lindo!!!] e Alfredo Del Penho).
Pra esquecer
Naquele tempo
Em que você era pobre
Eu vivia como um nobre
A gastar meu vil metal
E por minha vontade
Você foi para a cidade
Esquecer a solidão
E a miséria daquele barracão
Tudo passou tão depressa
Fiquei sem nada de meu
E esquecendo a promessa
Você me esqueceu
E partiu com o primeiro que apareceu
Não querendo ser pobre como eu
E hoje em dia
Quando por mim você passa
Bebo mais uma cachaça
Com meu último tostão
Pra esquecer a desgraça
Tiro mais uma fumaça
Do cigarro que filei
De um ex-amigo que outrora sustentei
Quando criança, eu detestava serestas. Por que? Achava tudo coisa de velho. Estava sempre com sono, circulando entre pessoas que não faziam parte de meu mundo, ouvindo uma música pesada, que eu não entendia, em vozes empoladas demais. Me lembro desses recitais na casa de um vizinho velho, casada com uma moça jovem (40 anos mais nova, para ser mais específica), mas que gostava de coisas velhas (hoje eu também gosto de coisas velhas!!!). Ele era festeiro, todo aniversário levava amigos com violões, contratava seresteiros e dá-lhe música de velho até de madrugada.
Morávamos numa casa de vila, e os vizinhos eram muito amigos, trocavam favores, saíam juntos, convidavam para festas, socorriam os doentes, as crianças que passavam mal. Esse casal, quando se mudou para a vila, causou um certo, diria, impacto. As vizinhas faladeiras se incomodaram com a diferença de idade, os shortinhos curtos da moça que já tinha filho do velho. Bobagem que durou pouco. Ela conquistou todas as senhoras, talvez por ser uma também, apesar da idade.
Esse vizinho era um dos mais queridos. Toda vez que fazia peixe, levava uma posta para mim, junto com o pirão. Como cozinhava bem! No Natal, deixava uma garrafa de vinho na porta dos outros. Era o mais jovem da rua, mesmo com a idade avançada. Tinha o espírito de um menino. Mas gostava de música de velho. Tanto que, toda vez que eu entrava em seu carro, ouvia seu cantor predileto: Nelson Gonçalves!
Até outro dia, antes de ler a biografia de Noel e procurar tudo que diz respeito ao meu compositor predileto, eu associava Nelson Gonçalves às serestas do meu vizinho e ao rádio de seu carro. Eu gostava do vizinho, mas detestava a música. Jovem tem necessidade de rejeitar o gosto dos mais velhos, não é? Aliás, jovem não. Adolescente chato! (nessa época da vida, eu ouvia metaleiros, era meio revoltada e totalmente alienada)
Pois bem, no site do Instituto Moreira Salles, que passei a freqüentar (na falta da caixa completa do Noelzinho) ultimamente, encontrei gravações de Nelson Gonçalves preciosas. Gostei e acabei comprando dois discos do "Metralha" (apelido que ganhou por ser inteiramente gago quando estava longe do microfone). Um deles é da Revivendo, "Nelson Gonçalves canta Noel Rosa e Herivelto Martins". Nele, desfila seu vozeirão por clássicos como "Quando o samba acabou" e "Só pode ser você". Mas é do disco com Raphael Rabello, que também comprei esta semana, que tiro a letra de um samba lindo de Noel para postar. "Pra esquecer" está também no maravilhoso CD "Cachaça dá samba", de uma certa dupla que estimo muito (Pedro Paulo Malta [lindo, lindo!!!] e Alfredo Del Penho).
Pra esquecer
Naquele tempo
Em que você era pobre
Eu vivia como um nobre
A gastar meu vil metal
E por minha vontade
Você foi para a cidade
Esquecer a solidão
E a miséria daquele barracão
Tudo passou tão depressa
Fiquei sem nada de meu
E esquecendo a promessa
Você me esqueceu
E partiu com o primeiro que apareceu
Não querendo ser pobre como eu
E hoje em dia
Quando por mim você passa
Bebo mais uma cachaça
Com meu último tostão
Pra esquecer a desgraça
Tiro mais uma fumaça
Do cigarro que filei
De um ex-amigo que outrora sustentei