Lameblogadas

quinta-feira, dezembro 16, 2004



Diários de viagem - Taxistas

Eles adoram falar de política e economia, são especialistas em Brasil, pessimistas, piadistas, solícitos e - o melhor - baratos. Em Buenos Aires, passeia-se de um lado a outro da cidade com poucos pesos, algum conforto e muito bate-papo.

Não sei se foi pura sorte, mas nos divertimos muito nas viagens de táxi. O motorista preferido foi o que mais falou de ... política. Depois de fazer uma análise sobre os últimos anos de governo no país, ele disse que seu filho ("as novas gerações não são mais politizadas") passou a gostar do assunto depois de participar do panelaço - que culminou com a renúncia de De la Rúa.

Politizado, como as velhas gerações, ele se disse em dúvida sobre os destinos do país governado agora por Néstor Kirchner - que tem sido mais duro que os outros presidentes nas negociações da dívida externa com o FMI. "Ainda não sabemos se ele se transformará num Lula. Vocês votaram numa pessoa e estão sendo governados por outra."

Politicamente equivocado, o único motorista que eu detestei foi um estudante de engenharia que sonhava em voltar a morar nos Estados Unidos, país de sua mãe. Não à toa, o rapaz - que disse ser contra a imigração porque os pobres da América Central só vão para a terra do Tio Sam para roubar - foi o único a nos dar uma grande volta: cobrou doze pesos por uma corrida que não passaria de oito. Roubar na América Latina vale, não?



Crise de identidade

Quase não entrei na Argentina por causa do estado calamitoso da minha carteira de identidade. Pois bem, na volta a primeira providência foi tirar a segunda via. E não é que no processo descobri que a foto 3x4 com faixa no cabelo é proibida pelas regras do Detran. Como assim? Não fico diferente sem elas, mas também não posso viver sem. Tudo bem, fiz a foto nova. O pior ainda estava por vir.

Na hora da assinatura, a moça disse que eu não poderia colocar o acento agudo no Cláudia. Ahn? "Você tem que assinar como está na carteira, que é a mesma grafia da certidão." Na minha certidão de nascimento, e eu só descobri isso aos 29 anos de idade, meu primeiro nome não tem acento. O problema é que eu assino assim a vida inteira, é automático.

Resultado: a moça teve que corrigir a minha assinatura, com acento, com liquid paper. Eu simplesmente não sei mais escrever sem. No jornal, vai ser a mesma coisa. Eu me recuso a mudar agora. E não existe Cláudia sem acento, por favor!