Transes jornalísticos
Há momentos em que as redações de jornais entram num transe coletivo. Em um ano e um mês no Globo, presenciei algumas contundentes manifestações dos colegas às notícias veiculadas na TV. Vi repórteres chorando, torcendo, se indignando, dando murros no ar e gritando yes! em ocasiões diversas como num jogo de Copa do Mundo, na tragédia americana em Nova Iorque (aqui a grafia é nossa e não como a quer o Garcia), na morte do colega Tim Lopes e nas divulgações de pesquisas eleitorais. No dia em que o Jornal Nacional confirmou o assassinato brutal de Tim, bolos de jornalistas se juntaram em frente às TV's espalhadas por aqui (se não me engano são oito no nosso espaço, mais as dos aquários). Vi lágrimas corporativas rolarem de olhos que sequer viram o repórter uma vez na vida. Meus olhos marejaram, me segurei para não chorar. Sou uma manteiga derretida, se vejo duas pessoas chorando, me dá vontade também.
Nos atentados terroristas que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center e destruíram parte do Pentágono, eu era estagiária. Onze de setembro, meu primeiro dia na Internacional. Inesquecível. Por sorte, resolvi chegar mais cedo para adiantar matérias atrasadas (estagiários não fazem reportagens para serem publicadas e são os únicos seres na redação que não têm obrigação de escrever o que apuraram no mesmo dia). Quando cheguei, vi o redator Flávio Lino, rei das canetadas (suava frio quando entregava minhas matérias para ele corrigir), em frente à TV, sem acreditar no que estava vendo. Duas horas depois, o Globo tinha pronta uma edição especial que demandou o trabalho de uma equipe fantástica de jornalistas. Comoção pelo bom trabalho, pelo momento Histórico. Bem, já escrevi um texto sobre isso. Na verdade, o texto saiu no jornal final aqui do estágio, mas não do jeito que eu queria. Então, vou registrar aqui o que não saiu lá (não se pode citar nome de ninguém, Cláudia, me disse a Simone): William Helal foi o estagiário que motivou a galera a fazer um caderno especial sobre os atentados. Naquele dia, eu vi a alma de Lilico e ela era jornalística.
Saiu agora há pouco a última pesquisa Ibope sobre a corrida presidencial. Não há dúvidas que a maioria dos jornalistas aposta em Lula lá... no Planalto. A comemoração mais exaltada de alguns e o sorriso feliz de outros mostrou isso. Muita vibração com os resultados: Lula continua em primeiro, com 35% das intenções de voto. A grande novidade é a queda de Ciróquio, de 26% para 21%. Serra cresceu depois de atacar Ciro no horário eleitoral. No primeiro debate entre os presidenciáveis, e até hoje eu não tinha revelado aqui minhas impressões, Serra deu a grande virada: mostrou a primeira grande mentira da campanha.
Provou que Ciro blefava ao dizer que tinha pago um salário mínimo de U$ 100 quando foi ministro da Fazenda. A partir dali, repórteres acordaram e foram atrás de mais histórias do bonequinho que mente. Descobriram que o candidato rústico, segundo sua própria mulher, a bela Patrícia Pillar, mentiu ao dizer que estudara em escola pública a vida inteira. O Elio Gaspari entrou na campanha para desmoralizar Ciro, que chama fotógrafos de babacas e eleitores, de burros. Em sua coluna dominical no Globo, tem sentado o sarrafo nele.
Lula está perto da vitória como nunca esteve. Parece até que anda fazendo ioga de tão calmo e confiante. Tem se reunido com banqueiros, diplomatas e foi o único a ser recebido individualmente pelo presidente FH. Segundo brilhante perfil publicado num caderno especial da Folha, logo no início da campanha, Lula teve um encontro com Fernando Henrique depois da derrota de 1998. O reeleito teria apontado alguns erros do petista. Parece que ele ouviu com atenção.