Lameblogadas

quarta-feira, agosto 02, 2006



Ouvir Marisa Monte é lembrar do que fui, do que sou e do que queria ser. Apesar de ser fã desde o disco (de vinil) de estréia, somente na sexta passada assisti ao primeiro show. Poderia destacar o cenário (blocos de luz onde se projetavam imagens), o repertório (mistura dos novos CD's com sucessos antigos), a voz (esplendorosa), as instalações (a gaiola com os pássaros de papel vermelho me fizeram lembrar do clássico texto sobre a festa do Mano Vladimir), a artista no palco (linda, solta, firme, dona do espaço), da nova "festa de arromba" tribalista, mas fico com a música do bis, que é uma de minhas preferidas por falar de um encontro, de uma quase despedida e do meu grande amor. Foi o momento de emoção, num show que pode ser definido como um "desfile técnico perfeito". Concordo com o Pedro: o bonequinho aplaudiu, e muito, mas sentado.


Não vá embora (Marisa Monte e Arnaldo Antunes)

E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida

Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora dando errado pra mim
Mas com você dá certo

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais

Eu podia estar sofrendo caído por aí
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero, não quero

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais

Vida de repórter em campanha...

Cena 2

Calçadão de Nova Iguaçu, 15h, tarde mais fria do ano. Enquanto a imprensa aguarda Heloísa Helena chegar para o segundo compromisso do dia (estamos atrás dela desde as 9h), se aproxima um eleitor. Magrinho, parcos fios de cabelo, cara de louco.

_ Vocês são repórti?

_ Sim _ responde o repórter da Globo.

_ Pode me explicar uma coisa? É verdade que a Heloísa Helena é a favor dos homossexuais?


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Cena 1

Parada do Orgulho Gay, Copacabana, segunda tarde mais fria do ano. A imprensa não tem permissão para subir no trio elétrico onde está Heloísa Helena. Os repórteres estão acompanhando a candidata desde as 9h, horário em que visitou uma favela perigosa de Niterói. Um deles leva uma guarda-chuvada na cabeça. O outro, uma cantada (sem preconceitos!!!). A Globo tem permissão para subir no trio. Os repórteres fazem um escândalo com os sindicalistas que estão "favorecendo" a grande adversária das esquerdas. Todos sobem.


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Cena 3

Calçadão de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Niterói. Reação dos eleitores à presença da candidata do PSOL:

_ Eu só gostava dela quando ela era amiga do Lula. Agora que brigou com ele não gosto mais.

_ A senhora parece muito mais nova pessoalmente. E é muito simpática. Na televisão, está sempre com raiva.

_ Só a senhora pode salvar o Brasil da corrupção.

_ Mãe, estou aqui com a Heloísa Helena. Quer falar com ela?


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Cena 4

Calçada do prédio do Paulo Henrique Cardoso, orla de São Conrado, ontem à noite. A imprensa faz plantão esperando a visita de Geraldo Alckmin ao filho de FHC. Daniele Winits, moradora do edifício, chega em casa com uma sacolinha de compras.

_ Gente, o que aconteceu? Querem falar comigo? Tudo isso é pra mim?

_ Não, estamos aqui pelo Alckmin.


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Cena 5

Vieira Souto, 620. Reunião de Alckmin com intelectuais, empresários e "formadores de opinião" no segundo andar do prédio. A imprensa aguarda na rua, ao léu. Venta muito. Os fotógrafos sobem nos fradinhos para tentar registrar o encontro. Os moradores passam assustados. Alguns têm coragem e perguntam:

_ Quem está aí?

_ O presidente Lula _ respondem.