Lameblogadas

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito...




Em 1999, eu trabalhava numa agência de comunicação que tinha clientes, majoritariamente, da área econômica (Shell, Telemar, CSN, entre outros). No fim do ano, o chefe trouxe a novidade: iríamos fazer a assessoria de imprensa da Mangueira. Eu era a única estagiária que gostava de samba e fui imediatamente escalada para integrar a equipe que cuidaria da nova conta. Meu trabalho seria ficar no barracão da escola, atendendo a imprensa e cuidando do carnavalesco. Mas a primeira missão seria no mesmo dia do anúncio: cobrir o show da verde e rosa no Canecão.

Para me "convencer" a ir, já que seria muito fora do meu horário e eu não ganharia hora extra por isso (eu entrava às 7h e saía às 13h), o chefe disse a frase mágica: "Chico Buarque vai estar lá". Eu sabia e nem titubeei. Antes do show começar, já estava a postos no Canecão, para o que desse e viesse. Estagiária, eu faria apenas um stand-by, já que as duas jornalistas titulares da conta estariam lá. Acho que era apenas um teste.

Mas aí o improvável aconteceu. (e meu professor Dênis sempre dizia que o jornalista precisa ter "sorte" na profissão). Chegou, atrasadésima, uma repórter da rede TV, implorando para entrevistar o Chico. Nessa hora, a equipe da Globo já tinha feito uma exclusiva e estava posicionada na frisa, pronta para fazer uma chamada dentro do Jornal da Globo. A repórter estava esbaforida, desesperada, alegando que perderia o emprego se voltasse para a redação sem a sonora do homem.

(até hoje, não sei se o que estava em jogo era mesmo o emprego ou os hormônios da repórter).

Como ninguém lhe dava muita atenção, eu tomei a missão como minha. Fomos para a porta do camarim. Pedimos a seguranças, assessores, o pessoal da produção, a qualquer um que por nós passasse, para tirar o Chico do camarim por dois minutos. A certa hora, Ele aparece. A moça se prepara para a entrevista, minha voz some.

Foi aquele instante em que a roda pára de girar, os ponteiros dos relógios deixam de funcionar, o mundo inexiste fora dali. Os olhos cor de ardósia na minha frente, eu estatelada, a moça entrevistando. Ela termina, eu tiro sorrateiramente o CD que havia levado na bolsa (era o ao vivo do show "As cidades"), cutuco o ombro dele com um dos dedos e peço, com o olhar, um autógrafo. Ele pergunta meu nome. Eu balbucio. Voz tenho certeza que não saiu. Ele deve ter lido meus lábios, já que escreveu o Cláudia certinho. Se tivesse lido meus pensamentos, e quisesse de fazer uma boa ação naquela noite, Chico teria me dado mais que o autógrafo...

*****

* Depois daquele dia, eu o vi apenas mais uma vez, no calçadão do Leblon. Eu já era estagiária do Globo, voltava de uma pauta com uma repórter de Economia e um da Folha, que vinha de carona no nosso carro. Balbuciei de novo: "Chico, ali". Ninguém ouviu.

* Meu namorado não deverá ter ciúmes desse post. Ele sabe que, com Chico, não é traição. É destino.

quinta-feira, janeiro 04, 2007









Enquanto ele ensaia, eu canto:


Ninguém tem que achar ruim (Ismael Silva)

De mim você não tem razão
de se queixar
Assim você faz confusão
No nosso lar
Se eu sou do samba ninguém tem
que achar ruim
Você me conheceu
vivendo assim (tocando tamborim)

Não vá pensar
Que dança, música e bebida enfim
apareceram
exclusivamente para mim
Você também se por acaso
Numa farra entrar
Talvez até ocupe o meu lugar (E sem se demorar)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Contagem regressiva






























Faltam dez dias...

*****

A História de Lily Braun (Edu Lobo - Chico Buarque/1982)

Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz

E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou

Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilingüindo toda
Ao som do blues

Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris

E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê

Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar

Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz



"Eu vou popotizar você"


Reza a lenda familiar que fui ao cinema pela primeira vez com três anos e estraguei a sessão do meu irmão. Conta a minha mãe que era um filme dos Trapalhões, passando num cinema do Fonseca (no tempo em que a Zona Norte, de Niterói, ainda tinha salas), e eu prendi o dedo na cadeira, comecei a chorar e ela não teve outra alternativa senão estancar meu berreiro do lado de fora. Com o meu irmão junto. (Como caçula que chegou para ocupar seu espaço, roubando o que era do irmão mais velho e cheio de si, eu adoro contar essa história!!)

Das boas lembranças que tenho da infância, o cinema é uma das principais. E Didi, Dedé, Mussum e Zacarias são os protagonistas dessa história. Outro dia, o Canal Brasil selecionou uma série de filmes dos quatro, para deleite dos baixinhos do início da década de 80. Um deles era o clássico dos clássicos "Os saltimbancos Trapalhões". Revi as cenas com aquela emoção que nos joga diretamente no passado, com as sensações, os cheiros, o tudo da época.

Era um programão ir ao cinema em Niterói, na rede Severiano Ribeiro, onde o cinema era a maior diversão. Agora me vem o cheiro de ar-condicionado, cortinas velhas, poltronas de couro e pipoca. Antes de entrar na sala escura, comprávamos sempre aquele pacote de mini-chicletes (que acabava antes do filme começar), balas caramelo, pipoca em saco de papel (nada de combos, por favor!), amendoins (quando ia só com os coleguinhas, a gente sentava no segundo andar e achava engraçado jogar os amendoins no chão para fazer barulho; jogávamos vários ao mesmo tempo! ah, quem não roubou uma bala na Americanas {em São Gonçalo, onde eu morava, tinha uma loja chamada Brasileiras!!!} que atire a primeira pedra!), pirulito Zorro e todas aquelas bobagens que agravava a dor de dente na visita ao dentista.

Tem coisas que ficam guardadas na memória e você acha que esqueceu até revê-las e ditá-las, de cor e salteado. A cena de Didi com o mágico em Os saltimbancos é uma delas. "Eu vou popotizar você" é inesquecível! A risada que dei quando revi, tenho certeza, teve a mesma intensidade da primeira. Voltei a ser criança naquele momento. Que gostoso! Gostaria muito de ver outros da série, como "Atrapalhando a Suate"; "O cangaceiro trapalhão"; "Os trapalhões nas minas do Rei Salomão"; esses que a gente via nas sessões da tarde...

(fiquei passada quando descobri, outro dia, que um repórter novinho do Globo nunca ouvira falar do Eduardo Conde, um dos maiores vilões da cinematografia dos Trapalhões. nem perguntei do alemão, ele só deve conhecer o sargento Pincel da TV)

Revendo, descobri, ainda bem, que o produto era bem-feito, que não estava na memória como algo bom só porque eu tinha visto com olhos infantis. Vá lá, tinham as musas, os dispensáveis atores conhecidos (globais?) e os efeitos especiais bobos, mas o roteiro era bem-feito, havia crítica social (Didi tinha um quê de Carlitos) e a graça que só perdurou enquanto os quatro estavam juntos. Que falta faz o Mussum e o Zacarias!

****

A propósito, comprei a versão remasterizada do disco "Os saltimbancos Trapalhões", com trilha sonora Dele, Chico Buarque, o que me inspirou a escrever esse post. Não sei vocês, mas ouvir de novo "Piruetas", "História de uma gata" e outros hits me faz, não digo chorar, mas ficar com os olhinhos cheios d'água.

Taí a música que embala as melhores cenas do filme:

Piruetas (1981 - eu tinha seis anos quando Chico compôs...)

Uma pirueta
Duas piruetas
Bravo, bravo
Superpiruetas
Ultrapiruetas
Bravo, bravo
Salta sobre
A arquibancada
E tomba de nariz
Que a moçada
Vai pedir bis
Que a moçada
Vai pedir bis

Quatro cambalhotas
Cinco cambalhotas
Bravo, bravo
Arquicambalhotas
Hipercambalhotas
Bravo, bravo
Rompe a lona
Beija as nuvens
Tomba de nariz
Que os jovens
Vão pedir bis
Que os jovens
Vão pedir bis

No intervalo
Tem cheirim de macarrão
E a barriga ronca
Mais do que um trovão
Quero um prato
Cê tá louco
Quero um pouco
Cê tá chato
Só um pedaço
Cê tá gordo
Eu te mordo
Seu palhaço
Olha o público
Cansado de esperar
O espetáculo não
Pode parar

Vinte piruetas
Trinta piruetas
Bravo, bravo
Polipiruetas
Maxipiruetas
Bravo, bravo
Sobe ao céu
Fura a calota
E tomba de bumbum
Que a patota
Grita mais um
Que a patota
Grita mais um

No intervalo
Tem cheirim de macarrão
E a barriga ronca
Mais do que um leão
Quero um prato
Cê tá louco
Quero um pouco
Cê tá chato
Só um pedaço
Cê tá gordo
Eu te mordo
Seu palhaço
Olha o público
Cansado de esperar
O espetáculo não
Pode parar

Dez mil cambalhotas
Cem mil cambalhotas
Bravo, bravo
Maxicambalhotas
Extracambalhotas
Bravo, bravo
Salta além
Da estratosfera
E cai onde cair
Que a galera
Morre de rir
Que a galera
Morre de rir

Ai, minhas costelas
Já tô vendo estrelas
Bravo, bravo
Ai, minha cachola
Não tô bom da bola
Bravo, bravo
Lona... nuvens
Tomba no hospital
Uma pirueta
Uma cabriola
Uma cambalhota
Não tô bom da bola
E o pessoal
Delira...
Maxipirulito...
Ultravioleta...
Bravo, bravo!

Primeiras providências de 2007

* Esvaziar um gavetão, encher um sacolão de roupas e doá-las;
* Comprar os CD's que quis ouvir em 2006 (Céu, Cê, Coisa com coisa, Racional, Mar de Sophia);
* Fazer as contas para pagar o IPVA numa única parcela (torcer para receber o pagamento do frila e cumprir a promessa);
* Começar a planejar o aniversário (esse ano cai num sábado e, se tudo der certo, vou querer comemorar na Brazooka);
* Comprar o presente do meu sobrinho (mais carros);
* Ir à primeira consulta médica;
* Pegar o documento novo do carro, agora em meu nome;
* Manter os exercícios físicos e, parcialmente, a dieta (para ouvir mais elogios do médico de que estou cumprindo à risca as suas recomendações);
* Pagar a segunda prestação do carro e a sexta do computador (quem sabe não consigo me dar uma câmera digital em 17 de março???);
* Trocar de lugar no armário as roupas, cabides, faixas e roupas de dormir (adoro mudar tudo de lugar)
* Comprar a primeira caixa de neosaldinas;
* Escrever o primeiro post.

Feito.