Lameblogadas

quarta-feira, outubro 02, 2002


Deixa a vida me levar...

Zeca Pagodinho nos arcos da Lapa. Lembrei do Lulinha dizendo, no showmício em Botafogo, que gostava do Zeca porque ele bebe. Todos sabemos que Lulinha adora uma cachacinha, comme moi. Aliás, está faltando uma visitinha ao antipático seu Oswaldo na Casa da Cachaça. Comer uma trilha com uma branquinha (pode ser amarelinha). É demais!

Noite de samba, suor e bizarrice (como diria Janjão) que acabou com um encontro inusitado. A intenção era ficar no Capela, lotado de petistas cantando olê olê olê olá Lula Lula. Estava com um amigo do JB, que tentou voltar ao jornal para escrever a matéria. Esbarrou na sua editoria de Política inteira tomando chopp na Lapa. No Manuel e Joaquim, depois da batata frita e do guaraná, foi a vez de a editoria de Política do Globo chegar. Eu, vinda do comício petista, com adesivo do Lula na bolsa, e o sorriso da iminente vitória nos lábios não merecia tanto. Todos os meus chefes juntos, num bar, na Lapa. Parecia um pesadelo!!!

segunda-feira, setembro 30, 2002


Rondó de mulher só

Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.
O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.
Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.
A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai removendo a cor e o sentido das coisas como um ácido?
É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como a loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.
Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se a taça é de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. (Paulo Mendes Campos em "O amor acaba - Crônicas líricas e existenciais")


Kafkiana

Com o marcador na página 274, acabo de encontrar na penúltima prateleira da minha instante um livro de crônicas do meu amado Nelson Rodrigues. A surpresa: ele é repetido, eu tenho um igualzinho na prateleira acima da minha cama, no meu outro quarto, onde ficam os livros mais preciosos e adorados, ao alcance da mão e dos olhos.
Eu nunca colocaria um livro do meu autor predileto onde esse estava, por isso que quando procurei o danado, não encontrei. Dei falta, tentei puxar pela memória (será que emprestei para alguém? não, não se empresta um Nelson Rodrigues!!) e concluí que, por um lapso qualquer, ele faltava à minha coleção de crônicas publicadas pela Companhia das Letras, sob a batuta de Ruy Castro. Comprei outro ano passado, e reli. Agora os dois estão aqui, na mesa do computador. O que eu faço? Alguém quer de presente "O óbvio ululante"? Só tem um problema: tem o meu nome escrito.
Ah, eu procurava um Maiakóvski quando encontrei o Nelson.


Eu mudei
Da série: agora eu tenho um blog

"Sou capaz de gritar durante quatro horas numa passeata, de passar a noite em claro produzindo manifestos, de ficar na faculdade depois da hora discutindo política, de produzir um evento de poesia em que somente meia dúzia de gatos pingados se empolgam em participar, de sentar na mesa de um bar e discursar contra a burrice nacional e o tédio da juventude, de ler toda a poesia do Maiakóvski e reler Marx dez vezes, de acreditar no poder de mobilização das massas, de ter esperança no futuro dessa merda de país, de votar no Lula quantas vezes for necessário e de acreditar na vitória até a contagem do último voto, de chorar ao ver um menino de rua na solidão da vida ao léu, de me arrepiar todas as cem vezes em que assistir aos quinze minutos finais de Deus e o diabo na terra do sol, de chorar convulsivamente ao ver a foto de um torturador ou de um ditador ... Mas sou incapaz de abandonar uma relação infeliz, mergulhar numa outra história e arriscar perder minha segurança medíocre." (Cláudia Lamego, às 14 horas e quarenta e seis minutos de 20 de maio de 2000)


Do amor aos livros

"Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem pássaros; há aqueles que não podem imaginar um mundo sem água; ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros." (Jorge Luis Borges)


Anotações da época em que não existia o blog

"Passei a noite na casa do Armando. Enquanto ele assistia ao Discovery, eu lia contos do Pirandello e do Poe. Adormeci com o cheiro de papel velho que exalava do livro antigo e acordei com ele ao meu lado, amassado.
Talvez ele seja minha última companhia, o livro. Meu sonho é morar numa biblioteca e casar com os livros. A eles amarei incondicionalmente, sem cobranças, sem limites, sem abandono, sem dor..."


o amor que não dá certo sempre está por
perto


Minha ressaca teve gosto de morangos mofados. Nem bebi tanto ontem (só três doses de Ypioca e talvez quatro latas de cerveja quente) mas acordei com tonteira. Será o que?

domingo, setembro 29, 2002


Lula x Serra x Garotinho x Ciro

Maiá Menezes definiu bem o que será a cobertura do último debate, na Rede Globo, entre os candidatos à Presidência:
_ É como cobrir o Fla-Flu sendo flamenguista.

Escaldados pela derrota no último debate em 1989, os lulistas estamos apreensivos. Hoje, os jornais divulgaram a última pesquisa Datafolha: Lula a um ponto da vitória no primeiro turno, com 49% das intenções de votos. Seria tão bom...
Bem, a minha parte eu já fiz: papai e mamãe votarão no 'sapo barbudo' pela primeira vez.



Simpatia é quase amor, descobriu Lulinha logo no início da campanha. Ele está tão 'saidinho' que na entrevista ao Jornal Nacional disse que era favorável ao planejamento familiar e que os dois apresentadores eram bons exemplos disso. "Vocês só não esperavam tanto, né", brincou ele, arrancando sorrisos do casal Bonner e Fátima Bernardes, pais de lindos trigêmeos.


Lula e FH

O Clarín publicou reportagem dizendo que Fernando Henrique teria dito ao presidente argentino, Eduardo Duhalde, que Lula será o próximo presidente e que o problema de José Serra é a falta de carisma. Com ou sem carisma, não podemos negar à Serra e à sua equipe de marketeiros o maior feito dessa campanha: a derrubada de Ciro Gomes, o candidato rústico e destemperado.
Só não deu certo atacar o Lulinha paz e amor, até FHC reclamou. Pelo contrário, o índice de rejeição do tucano aumentou.
Cá pra nós, tenho quase certeza que o príncipe dos sociólogos vai votar no Lula.


Coincidências

1975. Eu nascia e um poeta publicava um livro.
2000. Na livraria Argumento, eu o comprei, reeditado.
2002. Conheci o filho, que produziu a nova edição.

A poesia, na contracapa, que me chamou a atenção:

o meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente