Lameblogadas

sexta-feira, setembro 24, 2004



Meu poeta

Nada como uma linda poesia, lembrada pelo colega Toni Marques - inspirado pela cobertura eleitoral de 2004 - antes de deixar a labuta, para me distrair nessa noite de "pescoção" que não tem mais fim...

Jandira

O mundo começava nos seios de Jandira.
Depois surgiram outras peças da criação:
Surgiram os cabelos para cobrir o corpo,
(Às vezes o braço esquerdo desaparecia no caos).
E surgiram os olhos para vigiar o resto do corpo.
E surgiram sereias da garganta de Jandira:
O inteirinho ficou rodeado de sons
Mais palpáveis do que pássaros.
E as antenas das mãos de Jandira
Captavam objetos animados, inanimados,
Dominavam a rosa, o peixe, a máquina.
E os mortos acordavam nos caminhos visíveis do ar
Quando Jandira penteava a cabeleira...

Depois o mundo desvendou-se completamente,
Foi-se levantando, armado de anúncios luminosos.
E Jandira apareceu inteiriça,
Da cabeça aos pés.
Todas as partes do corpo tinham importância.
E a moça apareceu com o cortejo do seu pai,
De sua mãe, de seus irmãos.
Eles é que obedecem aos sinais de Jandira
Crescendo na vida em graça, beleza, violência.
Os namorados passavam, cheiravam os seios de Jandira
E eram precipitados nas delícias do inferno.
Eles jogavam por causa de Jandira,
Deixavam noivas, esposas, mães
Por causa de Jandira.
E Jandira não tinha pedido coisa alguma.
E vieram retratos no jornal
E apareceram cadáveres boiando por causa de Jandira.
Certos namorados viviam e morriam
Por causa de um detalhe da boca de Jandira.
Um deles suicidou-se por causa da boca de Jandira.
Outro, por causa de uma pinta na face esquerda de Jandira.
E seus cabelos cresciam furiosamente com a força das máquinas;
Não caía nem um fio,
Nem ela os aparava.
E sua boca era um disco vermelho
Tal qual um sol mirim.
Em roda do cheiro de Jandira
A família andava tonta.
As visitas tropeçavam nas conversações
Por causa de Jandira.
E um padre na missa
Esqueceu de fazer o sinal da cruz por causa de Jandira.

E Jandira se casou.
E seu corpo inaugurou uma vida nova,
Apareceram ritmos que estavam de reserva,
Combinações de movimento entre as ancas e os seios.
À sombra do seu corpo nasceram quatro meninas que repetem
As formas e os sestros de Jandira desde o princípio do tempo.

E o marido de Jandira
Morreu na epidemia da gripe espanhola.
E Jandira cobriu a sepultura com os cabelos dela.
Desde o terceiro dia o marido
Fez um grande esforço para ressuscitar:
Não se conforma, no quarto escuro onde está,
Que Jandira viva sozinha,
Que os seios, a cabeleira dela transtornem a cidade
E que ele fique ali à toa.

E as filhas de Jandira
Inda parecem mais velhas do que ela.
E Jandira não morre,
Espera que os clarins do juízo final
Venham chamar seu corpo,
Mas eles não vêm.
E, mesmo que venham, o corpo de Jandira
Ressuscitará inda mais belo, mais ágil e transparente.
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quinta-feira, setembro 23, 2004



Momento barbie

Cabelos brancos, cheios de ponta, unhas sem esmalte, sobrancelha por fazer, roupas velhas, tênis gasto. Nessa reta final de campanha eleitoral, meu maior desafio é arrumar tempo para organizar (e atualizar) meu guarda-roupa e passar um dia inteirinho no salão cuidando da beleza perdida.

Tudo isso será impraticável nos próximos dias. Amanhã, começo o meu em Nova Iguaçu, acompanhando o fenômeno eleitoral das eleições, o "Lindoberg", que ameaça o reino dos Garotinho na Baixada. Termino escrevendo essa e duas outras dominicais, que podem dormir numa gaveta até o próximo pleito. No sábado, acordo cedo para mais um plantão. Rotina também do domingo, da segunda, da terça... até o dia 04, trabalhando direto, sem folgas, até saber o resultado dessa que é a eleição municipal carioca mais morna dos últimos tempos.

O momento Barbie, quem sabe, pode chegar em meados de outubro. Ou não.

* Agora, pelo menos, estou aliviada pelo bem-estar do meu João Gabriel. Ele passou o dia brincando, se alimentando bem e se recuperando maravilhosamente da cirurgia. :-)

terça-feira, setembro 21, 2004



A rotina entre médicos, exames e remédios nos últimos cinco anos me deixou avessa à mais simples agulhada para retirada de sangue. Como se não bastasse, e isso vai acontecer muito ainda, eu sei, mas não imaginava tão cedo, vou estar amanhã de volta ao Hospital Santa Cruz. Dessa vez, para acompanhar o meu pequeno João Gabriel, que com apenas dois aninhos e oito meses, já vai ter que se submeter à uma cirurgia para retirada de uma hérnia.

Minha cabeça, entre o trabalho exaustivo de cobertura de campanha eleitoral e essa notícia, não funciona direito há dias, talvez duas semanas. Por isso, nunca desejei tanto que o tempo passe depressa. Que o médico nos devolva logo o pequeno são e salvo, e de volta à rotina de trocar o óleo, colocar gasolina e botar para correr os mais de duzentos carrinhos que já coleciona.

Comprei uma miniatura da Ferrari para dar de presente amanhã a ele. Quando soube que ia ganhar mais um carro, disse: "oba, quero ser piloto, titia".

Conto com as orações, energias positivas e pensamentos bons dos amigos para que tudo dê certo amanhã.