Lameblogadas

sexta-feira, agosto 20, 2004



Aracy de Almeida, por Antônio Maria

Filha de pastor protestante, sabe de cor alguns trechos da Bíblia. Numa mesa de bar, em pausa de conversa, quando menos se espera, lá vem a tirada: "Vendo, então, Jacob, que havia mantimento no Egito, disse a seus filhos - "Por que estais olhando uns para os outros?" E reforça, para que não duvidem da citação: "isto é do Livro do Gênesis, capítulo 42". Em menina, quando lhe pediram para cantar na igreja, fez apenas esta pergunta: "e dinheirinho, como é"? Gosta imensamente de três coisas: pintura, tango argentino e cinema. Seu pintor preferido é Clóvis Graciano, cujos quadros estão em todas as paredes de sua casa, em São Francisco Xavier. Morre de amores por quatro ou cinco amigos e, ao seu lado, sente o maior desprezo pelo resto da humanidade. Se entra num bar e os surpreende com uma namorada, a moça pode ser um anjo saindo do Sacré Coeur, Aracy fecha a cara e, antes do boa noite ou de como vai, grita da porta: "Temos conversado. Enquanto você estiver com essa vigarista, não fale comigo". Em São Paulo, numa época de ternura com Maurício Barroso, encontrou-o, certa vez, num bar com uma moça de sociedade. Meio sem jeito, temendo os ciúmes de Aracy, Maurício disse somente: "Alô, Aracy"... naquela hora, num grito do coração, celebrizou esta generosidade nunca vista. Este cronista, se não soubesse evitar os seus rasgos de prodigalidade, seria dono, hoje, de todos os quadros de sua casa, máquinas de escrever e dezenas de isqueiros. Guarda, porém, algumas de suas fotografias, com dedicatórias assim: "Ao meu poeta, com o bem-querer da infeliz Aracy de Almeida - "Poeta Maria, não brigue com o meu Lobo. Aracy de Almeida" - "Meu Maria, quando eu morrer, escreva uma coisa pra mim, dizendo que ficou com saudades. Aracy de Almeida". Num chaveiro de ouro, presente de aniversário, mandou gravar: "Maria, se eu morresse amanhã, deixaria esta lembrança para você". Não é bonita, sabe disso e não luta contra isso. Não usa, no rosto, baton, rouge ou qualquer coisa, que não seja água e sabão. Ultimamente corta o cabelo de um jeito que a torna muito parecida com Castro Alves. Seus vestidos são simples, mas, sempre de muito boa qualidade. Orgulha-se da beleza do seu busto e, quando surge qualquer dúvida, não faz a menor questão de exibi-lo, esteja onde estiver. Entende, tanto quanto um clínico, de achaques e doenças. Está a par de todos os remédios e repete fórmulas inteirinhas, com os nomes intrincados das drogas e as dosagens decimais de cada um. Gasta por mês dois mil cruzeiros num exame médico rigorosíssimo. À noite, anuncia na mesa do bar: "a titia, hoje, abriu a máquina e fez uma revisão geral. Não está vasando, nem queimando óleo". Bebe uísque puro, com gelo. Depois do segundo, fica muito terna e diz umas coisas de sua alma, que surpreendem pela doçura. Só anda de automóvel, mas não pensa em comprar o seu carro. Serve-se do táxi do Inglês (chofer de São Francisco Xavier) a quem paga de 500 a 600 cruzeiros por dia. É uma verdadeira fábrica de gíria e não conversa meia hora, sem dizer matusquela, mincho, argolo, vivaldina (em relação a ela mesma - pessoa esperta, viva), alancatréa, de araque etc. É uma esplêndida cozinheira, sendo de sua especialidade um feijão que ela chama poroto, três maneiras de preparar galinha e umas empadas de camarão, cuja massa é um segredo de morte. Aos domingos, depois do futebol, vou à sua casa, onde me esperam: um banho quente, um jantar, uma cama com um ventilador ligado em cima e uma vitrola tocando tangos. Quando telefonam ou chega gente, diz que eu não estou e fica falando: "meu Maria, coitado, precisa descansar, porque ele é doido e trabalha muito". Em casa, usa os trajes mais estranhos e engraçados. É comum a gente encontrá-la com um calção e uma camisa sem manga do companheiro, um boné na cabeça, sapatos de tênis.
Atualmente, Aracy está em São Paulo. Deixou o rádio carioca e, sem dar entrevistas (é contra qualquer fantasia publicitária, gostando de valer pelo que é) foi ser exclusiva da Rádio Record. Confessa que está cansada de cantar, embora esteja cantando melhor do que nunca. Faz de cada música um caso pessoal e entrega-se às canções do seu repertório como quem se dá um destino. Não sabe chorar e não se lembra de quando chorou pela última vez. Mas a quota de amargura que traz no coração, extravasa nos versos tristes de Noel: 'quem é que já sofreu mais do que eu? Quem é que já me viu chorar? Sofrer foi o prazer que Deus me deu"... e vai por aí, sem saber para onde, ao frio da noite, na espera de cada sol, quando o sono chega, dá-lhe a mão e a leva para casa.

terça-feira, agosto 17, 2004



Prévia da final???

O melhor jogo da Olimpíada até agora foi o que acabou há pouco entre Brasil e Itália, no vôlei masculino. Os belos italianos resistiram até o tie-break, mas não foi desta vez que conseguiram a sonhada revanche sobre o Brasil. A seleção brasileira ganhou o primeiro set, perdeu o segundo e levou o terceiro com facilidade. No quarto, relaxou, chegou a estar perdendo por dez pontos de diferença e começou a reagir no fim. Não deu tempo, Itália 23 a 21. Numa disputa emocionante, o Brasil perdeu vários match points no tie-break, mas conseguiu fechar o set em inacreditáveis 33 a 31. Se continuar assim, não terei coração para assistir à final. Que venham os sérvios!!!

* Destaque para a atuação de Nalbert, que voltou em forma depois da cirurgia no ombro.

* A redação parou como se fosse Copa do Mundo.

* Os comentários femininos durante a partida são um set à parte: "italianinho bonito, erra, por favor"; "esse feio-bonito é o melhor de todos"; "prefiro o loirinho de olhos claros"; "hum, esse narigudo é um charme"; "é impressionante como TODAS as seleções italianas são assim", vocês sabem como...

segunda-feira, agosto 16, 2004



Notícias de João Gabriel por email:

"Irmã,
Hoje na hora do almoço dei um pulinho na casa de Beatriz pra ver o filhote e levá-lo na escola e seu sobrinho deu show. Primeiro não queria sair do meu colo:
- Papai Caio, qué i bora pa casa.
_ Por que, filho?
- A iscola tá fechada com chave.
- É mesmo filho, quem falou?
- O moço, papai, o moço fechô a escola com chave, vamo bora pa casa.
- Mas, filho você tem que ir pra escola, Tia Patrícia tá te esperando.
- Tá não papai, ela foi bora pa casa dela" .........

Ô, imaginação fértil...
Beijos


Foto: Robert Doisneau. Felipe, valeu a dica.



À esquerda, eu e Paulinha; na outra foto, Moutinho, meu amorzinho, eu e a Elis


Fim-de-semana com os Moutinho

Sábado, pude conhecer o cantinho muito especial do amigo Marcelo Moutinho, na Urca. Numa reuniãozinha com vinho e comidinhas especiais (o destaque é para a indescritível palha italiana da Paulinha), conheci pessoas muito bacanas (Elis, Jubilau, Rodrigo são os nomes que me vêm à mente agora) e passei horas muito agradáveis falando de temas diversos como Jane Duboc, Eduardo Coutinho, Orkut e cartas literárias.

A casa do Moutinho é um sonho. Para começar, a estante da sala guarda livros de cinema, entre eles, uma raridade que jamais consegui encontrar em sebos. Ele sabe qual é. As paredes amareladas (não de velho, ele as pintou quando foi morar lá) refletem a cor do seu amor com a Paulinha - que se revelou uma primeira-dama bem relacionada com a cozinha do apartamento (risos) - e guardam quadros com cartazes de filmes caros ao amigo.

No quarto, uma foto na parede ganhou a minha simpatia: Chico Buarque deitado, sorrindo, à vontade... No espaço, mais livros, fotos de amigos e de família, computador, televisão, DVD e a caixa de filmes do Woody Allen (que eu não vi, apenas soube que existia). Enfim, um cantinho com o qual todos sonhamos ter um dia para receber os amigos queridos. Exatamente como no sábado.

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Dia seguinte, a ida anual à Barra para comemorar o aniversário do outro Moutinho, o Daniel. Finalmente, conheço o restaurante que ele sempre prometeu me levar. O Três Potes é assim: saboroso e simples como a comida mineira que serve.

As companhias foram as de sempre: os inseparáveis amigos Chimento, Marcos e a namorada, Rodrigo Aör e Raquel, Simone e Flávio, o irmão que se parece cada vez mais com o Daniel. Fui com o meu amorzinho, companheiro de uma vida muito feliz. Ah, teve as ausências muito sentidas: Mario, Isabel e Marcelo e Ricardo - que dessa vez não ligou no meio do evento. E a iluminada chegada da Fátima, a mãe simpática, bonita e charmosa do meu amigo.

Enfim, um domingo especial, coroado com uma ida ao cinema - programa raro ultimamente. Tem sempre isso: já virou uma tradição minha com o Pedro fazer algum programa na Barra na esteira do aniversário do Daniel. Ano passado, entrei pela primeira vez no Barra Shopping. Ontem, assistimos ao ótimo Woody Allen no Rio Design, o shopping dos corredores vazios e vitrines glamourosas. Antes, uma passadinha na Argumento, ao lado da sala de cinema, que ninguém é de ferro...