Lameblogadas

quinta-feira, julho 10, 2003

A disposição dos meus livros nas estantes reflete bem minhas dúvidas intelectuais. Intelectuais? Antes, era uma prateleira para os de política, outra dedicada a Glauber e ao cinema brasileiro, uma exclusivíssima para o Nelson Rodrigues e outros grandes cronistas, mais uma só para as biografias. Agora surgiu o interesse por um novo tema, o samba e a música brasileira, e não tenho espaço para alocá-lo num canto só. Pior, na tentativa de arrumar, misturei tudo. Livros de economia, literatura brasileira e estrangeira e de poesia dividindo a mesma pilha. Frei Betto e seu batismo de sangue ao lado dos versos de Mario de Andrade. O livro sobre as chanchadas brasileiras pertinho de todos os Kafka. O único Dostoiévski, que nem é meu, repousa sobre o cinema de Truffaut, que está acima de uma coleção de contos franceses, americanos e russos, que, por sua vez, fica ao lado do prediletíssimo Dom Quixote. Nada combina com nada, livros lidos e não-lidos juntos aos que não serão sequer folheados tão cedo. Em cima das caixas de som, onde deveriam estar os CD's, os livros que comecei a ler e abandonei no meio do caminho entre um interesse novo e o antigo. Ali está a história do JK que deveria ter lido durante a campanha eleitoral, a do New York Times tantas vezes recomendada e o perfil do Zé Keti, que perdeu a vez para o do Chico, para histórias da Velha Guarda da Portela e as do Bip Bip, para o livrão do Noel, etc...

Acordei hoje cantando assim: "acontece que eu sou baiano/acontece que ela não é". Do nada, vim ao dia com esses versos na cabeça.

Sei não, acho que tô precisando pegar um avião para a terra de Caymmi e um barco para a Ilha de Itaparica, onde Glauber costumava passar as tardes lendo numa biblioteca pública...

As curvas do Globo

Sentar cada dia num canto diferente da redação é uma experiência muito enriquecedora. Hoje, por exemplo, estou no meio de um buchincho sobre a venda do SBT para o Boni. É que o Silvio Santos lá lá iá lá iá lá iá lá lá iá lá iá lá iá deu uma entrevista bombástica, na linguagem do Nelson Rubens ok ok ok, à revista Contigo, dizendo que só tem mais seis anos de vida e que teria vendido sua emissora ao ex-manda-chuva da Rede Globo. No início, era só a Raquel, a menina do Diário de São Paulo, que trabalha na redação do Rio (???), cobrindo TV. Agora, toda a editoria de Economia do Globo está em polvorosa por causa da tal venda.
É bom sair da rotina do Bairros de vez em quando. Ficar na editoria de Esporte, por exemplo, é muito saudável. Eita povo bem-humorado e feliz. Eles ficam pertinho do Segundo Caderno, de onde os repórteres sempre saem comentando os últimos lançamentos da indústria cultural, de filmes e músicas, coisas boas da vida.
É, mas o sonho sempre acaba nas colunas fixas do Niterói. Ontem fechei uma matéria sobre decoração de lavabos. Hoje, tenho que encontrar notinhas para o Cidadão Solidário. "Pestalozzi aceita doações"; "Huap precisa de doadores de sangue"; "Crianças do Orfanato Santo Antônio precisam de roupas".
O consolo é que o dia está quase acabando. Salve, salve.

Da quase extinta série "Diálogos"

Um trecho de conversa de amigos, que se deu numa churrascaria na Zona Sul do Rio.

Menino 1: Pô, chega de mulher maluca pra mim!

Menino 2: Você tá precisando encontrar uma terceira via.

M1: É, me apresenta uma terceira via aí.

Menina: Um caminho rosa.

OUTROS: Hein?

M: Um caminho rosa. A terceira via é rosa, porque o comunismo é vermelho.

M1: Não. (pausa) A fraternidade é vermelha.

M2: Então você precisa de um caminho entre a igualdade e a fraternidade. Meio branco meio vermelho, dá rosa. (pausa) De qualquer forma, vai ficar sem a liberdade...

M1: É, melhor continuar azul mesmo.

Pano rápido.