Lameblogadas

sexta-feira, dezembro 16, 2005



Minimalista

Dois corpos nus, um Prosecco e duas taças.

quarta-feira, dezembro 14, 2005



Pães, Fellini e Mastroiani


A rua do Rosário há alguns meses ganhou um dos lugares mais charmosos do centro do Rio. É a padaria-restaurante-bistrô do ex-BNDES Carlos Lessa. Sofisticada, a Brasserie Rosário já chama a atenção pelo balcão de pães e doces - de abrir o apetite só de olhar. Hoje, por exemplo, o destaque era uma cesta linda de rabanadas... tudo bem, eu estava com desejo de comer a sobremesa natalina e sofri muito por não comer inteiras outras delícias, como o Amandine (doce de maçã com amêndoas que o meu amor felizmente teve a boa idéia de experimentar) e a tartelete de amoras!!!

Como são bonitas as amoras...

Não almocei lá e fiquei com vontade de voltar várias vezes, para saborear a lista de patês, de sopas, sanduíches e até saladas que o menu incrementado oferece. Para melhorar, a Brasserie fica ao lado do sebo Al-Farabi e bem perto da livraria Folha Seca, o que faz da Rosário um dos mais gostosos, entre tantos, cantos do Rio.

***

A escapada ao Centro na hora do almoço me rendeu também o primeiro DVD do Fellini. A Livraria da Travessa montou uma banca de filmes da Versátil com preços em promoção. O simples custa R$ 33. O problema é resistir às preciosidades e sair da livraria com algum dinheiro na conta ainda ...



Do show de ontem, a música d'Ele e do Tom que não me sai da cabeça.

A violeira

Desde menina
Caprichosa e nordestina
Que eu sabia, a minha sina
Era no Rio vir morar
Em Araripe
Topei com o chofer dum jipe
Que descia pra Sergipe
Pro Serviço Militar

Esse maluco
Me largou em Pernambuco
Quando um cara de trabuco
Me pediu pra namorar
Mais adiante
Num estado interessante
Um caixeiro viajante
Me levou pra Macapá

Uma cigana revelou que a minha sorte
Era ficar naquele Norte
E eu não queria acreditar
Juntei os trapos com um velho marinheiro
Viajei no seu cargueiro
Que encalhou no Ceará

Voltei pro Crato
E fui fazer artesanato
De barro bom e barato
Pra mó de economizar
Eu era um broto
E também fiz muito garoto
Um mais bem feito que o outro
Eles só faltam falar

Juntei a prole e me atirei no São Francisco
Enfrentei raio, corisco
Correnteza e coisa-má
Inda arrumei com um artista em Pirapora
Mais um filho e vim-me embora
Cá no Rio vim parar

Ver Ipanema
Foi que nem beber jurema
Que cenário de cinema
Que poema à beira-mar
E não tem tira
Nem doutor, nem ziguizira
Quero ver quem é que tira
Nós aqui desse lugar

Será verdade
Que eu cheguei nessa cidade
Pra primeira autoridade
Resolver me escorraçar
Com a tralha inteira
Remontar a Mantiqueira
Até chegar na corredeira
O São Francisco me levar

Me distrair
Nos braços de um barqueiro sonso
Despencar na Paulo Afonso
No oceano me afogar
Perder os filhos
Em Fernando de Noronha
E voltar morta de vergonha
Pro sertão de Quixadá

Tem cabimento
Depois de tanto tormento
Me casar com algum sargento
E todo sonho desmanchar
Não tem carranca
Nem trator, nem alavanca
Quero ver quem é que arranca
Nós aqui desse lugar



Com um atraso imperdoável, ontem eu assisti à moça da foto ao vivo pela primeira vez. Se já gostava dos dois discos que conhecia, agora virei fã da Monica Salmaso, com direito a CD autografado e tudo. A cantora se apresentou ontem na sala Funarte no Projeto Pixinguinha, com os cantores Lula Barbosa e Lui Coimbra (outra surpresa).

No show de ontem, Monica privilegiou o repertório do CD "Voadeira", que felizmente estava disponível para venda no fim do espetáculo. O disco andava sumido das prateleiras cariocas, mas segundo ela, está voltando. Da apresentação de ontem, que teve "Minha palhoça" (J. Cascata), "Canto em qualquer canto" (Itamar Assunção e Ná Ozzetti) e "A violeira" (Chico Buarque e Tom Jobi), meu destaque absoluto vai para "Ave Maria no morro" (Herivelto Martins). Momento divino, de enlevo absoluto da platéia. Para ficar na memória.

Além da qualidade artística, a paulista Monica Salmaso é de uma simpatia carioquíssima. Ela é daquelas que gostam de alongar conversas, fazendo a fila de autógrafos andar bem devagar...

A moça, que se apresenta no CCBB do Rio na próxima semana, foi convidada para uma participação especial no próximo CD do Chico (salve ele!).

Meu Deus, quem foi que disse que a Monica não tem útero????

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"Ave Maria no morro"
(Herivelto Martins)

Barracão de zinco
sem telhado, sem pintura
lá no morro
barracão é bangalô

lá não existe
felicidade de arranha-céu
pois quem mora lá no morro
já vive pertinho do céu

tem alvorada, tem passarada
alvorecer
sinfonia de pardais
anunciando o anoitecer

e o morro inteiro no fim do dia
reza uma prece Ave Maria

Ave Maria, Ave
e quando o morro escurece

elevo a Deus uma prece
Ave Maria