Lameblogadas

sábado, janeiro 13, 2007

"O que será que será/Que andam suspirando pelas alcovas/Que andam sussurrando em versos e trovas/Que andam combinando no breu das tocas/Que anda nas cabeças, anda nas bocas/Que andam acendendo velas nos becos/Que estão falando alto pelos botecos/Que gritam nos mercados, que com certeza/Está na natureza, será que será/O que não tem certeza nem nunca teráO que não tem conserto nem nunca terá/O que não tem tamanho"


******

Corria o ano de 1998. Minha vida tinha começado a mudar radicalmente do fim de 1997 até então. Novos ares políticos, acadêmicos, amorosos, sexuais, filosóficos, literários, musicais e ... Eu me lembro do exato instante, como se eu o estivesse revivendo agora, em que uma canção de Chico Buarque penetrou minha alma. Era "O que será (à flor da terra)", eu a ouvia no rádio do carro e, de repente, flutuei. Chico entrava na minha história cantando todas as mudanças que eu ia vivendo. Não é à toa, portanto, que ele adquire uma importância vital para mim. Eu senti isso por outros dois artistas, quase ao mesmo tempo: Glauber Rocha e Nelson Rodrigues. Os três, então, formariam a Santíssima Trindade, da qual eu escrevi aqui no meu primeiro post, em 29 de abril de 2002.

Por sorte, Chico cantaria para mim um ano depois da descoberta. Eu ainda conhecia pouco dele, não tinha quase todos os discos (como tenho agora), nem dinheiro havia para comprá-los. A tal música, eu ouvia numa dessas coletâneas picaretas _ mas que servem para apresentar os artistas aos leigos, por isso, têm lá sua importância. Oito anos se passaram, meu universo musical cresceu muito, minha vida ganhou outros e mais belos ainda contornos, e eu poderei encontrá-lo de novo. Por isso, hoje é um dia especial. É como se fosse uma estréia de "Deus e o diabo na terra do sol" ou o lançamento de "O reacionário", com a presença dos autores. É coisa que marca, que entra para a história, é mais um capítulo de vida.

Vida que me reservou o maior presente depois. O de conhecer alguém que ame Chico com a mesma intensidade, que o considere o Maior, em todos os sentidos, que compartilhe comigo a Chicobuarquemania que acomete os corações mais sensíveis. Eu só poderia encontrar mesmo alguém que, talvez, ainda o admire mais que eu (embora sem o meu fanatismo...). Hoje, vamos viver aquele momento que faltava para completar nossa história: assistiremos, juntos, a um show de Chico Buarque. Choraremos juntos, e guardaremos na lembrança mais um dia seminal em nossa linda história de amor. É hoje!! *

O que será (à flor da pele)

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

* Dia 27 tem mais. Mas eu juro que não vou fazer mais contagem regressiva. Mudarei de assunto, ou me calarei, estatelada, até lá. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

sexta-feira, janeiro 12, 2007


É amanhã!












Ele vai cantar, pela primeira vez, essa pérola feita para o filme (um dos meus favoritos) do Cacá Diegues (da época em que o cineasta ainda sabia fazer isso!):

Bye, bye, Brasil

Oi, coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor

No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor

No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor

Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra Rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor

Bye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação tá no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr

quinta-feira, janeiro 11, 2007


















Todo o sentimento (*)

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu


(*) Ao amigo Gu, por quem chorei essa música hoje.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Um, dois, três...



















Mesmo que você fuja de mim/Por labirintos e alçapões/Saiba que os poetas como os cegos/Podem ver na escuridão/E eis que, menos sábios do que antes/Os seus lábios ofegantes/Hão de se entregar assim:/Me leve até o fim/Me leve até o fim

terça-feira, janeiro 09, 2007

Buarqueanas (quatro dias...)

Amores serão sempre amáveis/Futuros amantes, quiçá/Se amarão sem saber/Com o amor que eu um dia/Deixei pra você

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Passavam das dez da noite quando o telefone tocou na redação.

_ Globo, Nacional.
_ Oi, eu queria uma ajuda. Você é jornalista?
_ Sim, pois não.
_ Eu queria saber o que é a Alca...
_...
_ Estou fazendo um trabalho para a escola e o professor pediu para explicarmos o que é. Também tenho que falar sobre o Mercosul. Você pode me ajudar?
_ Eu posso te ajudar, mas acho que você deveria ter procurado fazer a pesquisa na biblioteca da escola, na internet, com os amigos. Para quando é o seu trabalho?
_ Tenho que entregar amanhã. Deixei pra cima da hora, agora não tenho computador em casa e não tenho a quem recorrer. Eu moro em Petrópolis, e a minha escola não tem biblioteca.
_ Mas como você teve essa idéia de ligar para o jornal?
_ Ah, eu sei que vocês, jornalistas, sabem de tudo. Então, resolvi ligar. Você me ajuda?

Achei a menina irresponsável, por não ter feito o trabalho da escola a tempo. Mas quantas vezes não fizemos isso durante a vida escolar e até acadêmica? Achei muito criativa a idéia de ligar para um jornal às 22h para resolver o problema. E, como ela tinha sido educada, resolvi ajudar. Perdi uns bons vinte minutos dando uma aula, por telefone, de geografia política pra ela. Aproveitei para perguntar se ela lia jornais, gostava de se informar, enfim, e dei umas dicas de estudo para a menina.

(eu tenho muita vontade de ser professora. gosto muito de ensinar as pessoas a buscarem seus próprios caminhos, além de informá-las sobre determinadas coisas)

Esse foi apenas um dos muitos telefonemas curiosos que recebemos aqui. Como também dependemos dos leitores para conseguir pautas (muitas grandes reportagens nascem dessas ligações telefônicas), e os nossos telefones são públicos, não há filtros que nos livrem também dos malucos, insones, carentes e outras espécies humanas que, muitas vezes, nos atormentam (a palavra é essa mesmo) - principalmente nos fins de semana.

No auge do escândalo do mensalão, uma senhora ligou, eu atendi e ela me disse umas três frases do tipo "vocês não vão conseguir derrubar o Lula" e desligou subitamente. Uma outra senhora queria saber o que fazer para entregar uma carta. Eu dei o email e o telefone da seção, mas ela disse que não tinha internet e que gostaria de entregar pes-so-al-men-te. Segue o diálogo:

_ Eu estou com o coração muito apertado por causa dessa crise do governo Lula.
_ Sei.
_ Então, escrevi uma carta grande, com esse meu pensamento.
_ A senhora pode mandar pelo correio comum também, te dou o endereço.
_ Não quero. Eu prefiro entregar a você, aí no jornal.
_ Mas eu não trabalho no setor das cartas. Não é melhor a senhora mandar pelo correio?
_ Você é jovem, minha filha, e não está entendendo. Eu quero entregar a carta na sua mão, quero que você leia para, então, a gente conversar sobre essa crise.
_ Mas, senhora, eu sou repórter, é difícil me encontrar aqui.
_ Ai, meu Deus!! É por isso que eu gostava do JB. Lá, tinha jornalista educado, que me recebia, lia as minhas cartas...
_ ???
_ Hoje em dia, a gente não consegue mais entrar nos jornais.

Não me lembro o que falei para convencê-la a desistir, porque nenhum jornalista do Globo faria o que ela queria. Mas não perdi as estribeiras. Tenho a maior paciência com os leitores. Um dia, ligou para a Rio um senhor que queria saber o canal do SportV. Eram pouco mais de oito da manhã, só havia mulheres (eu, inclusive) na redação, o Esporte estava vazio. Ninguém sabia, o homem gritava do outro lado da linha: "o jogo vai começar, vocês publicaram o horário, mas não disseram qual era o número do canal. eu não posso perder o jogo".

Começamos a zapear a TV para tentar encontrar. Aí chega o Carnaval (o fotógrafo que viaja pelas Américas e atualiza um blog no online sobre suas aventuras) para nos salvar. "É o 39!! Não é possível que vocês não saibam". Leitor com a informação, tudo resolvido.

Tem certas coisas que, até a gente começar a fazer, não imagina nem que saiam publicadas no jornal. A loteria é uma delas. Aqui na Nacional somos nós, redatores, que todos os dias consultamos o site da Caixa Econômica e colocamos os números na folha do dia seguinte. Quase diariamente, senhores e senhoras sem acesso à internet nos ligam para saber.

_ Minha filha, pode me falar os números da Lotomania?
_ 1, 2
_Não, 01, 02.
_ 04, 06, 18, 19...

Ontem, a coisa foi diferente. Um homem ligou e, gritando, perguntou por que o jornal não publicou o número da Mega-Sena no jornal dele, assinante há não sei quantos anos (esse é um clichê dos leitores). Eu comecei a explicar que o jornal fecha cedo no sábado, que a loteria sai tarde e que ele, provavelmente, não recebeu os poucos exemplares que traziam o resultado. Quer dizer, tentei falar, mas ele não deixava.

_ Mas o jornal vai publicar amanhã de novo os números.
_ Eu não vou esperar até amanhã para saber. Quero saber agora. Você sabe há quantos anos eu assino este jornal?
_ Meu senhor, eu vou continuar conversando com o senhor, mas exigo um mínimo de educação para falar comigo.
_ Você pensa que está falando com quem? Eu vou reclamar com o meu "amigo". Eu vou parar de assinar o jornal.
_ O senhor é quem decide.
_ Você prefere que eu reclame de você com quem? O Roberto Irineu, o João Roberto ou o ... (não lembro o nome do terceiro filho agora)?
_ O senhor decide.
_ (gritando) Eu quero saber os números da loteria.
_ Se o senhor for educado, eu falo. Mas o senhor vai ter que esperar. Vou ter que checar na internet.

Quem me conhece, sabe que sou calma. Pelo que escrevi antes, dá para ver que sou paciente. Só não aceito violência, intolerância, grosseria, falta de educação. Depois que desliguei, fiquei tentando imaginar o visual da figura. Não consegui. Mas tenho certeza que é um desses tipos que escrevem para o jornal pedindo pena de morte, elogiando as milícias e aplaudindo a senhora de Copacabana que atirou num assaltante e, depois, disse que todos os mendigos deveriam ser levados num barco e jogados no mar. Deve ser um desses que condenam a violência no país. Mas só a dos outros.

domingo, janeiro 07, 2007

Música para o plantão de domingo

(enquanto o Amor grava, canta e alegra o povo na Fundição)


Ela é dançarina (1981)
("Eu quero dormir e ela precisa dançar")

O nosso amor é tão bom
O horário é que nunca combina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Quando pego o ponto
Ela termina

Ou: quando abro o guichê
É quando ela abaixa a cortina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Abro o meu armário
Salta serpentina

Nas questões de casal
Não se fala mal da rotina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Quando caio morto
Ela empina

Ou: quando eu tchum no colchão
É quando ela tchan no cenário
Ela é dançarina
Eu sou funcionário
O seu planetário
Minha lamparina

No ano dois mil e um
Se juntar algum
Eu peço uma licença
E a dançarina, enfim
Já me jurou
Que faz o show
Pra mim

Ela é dançarina
Eu sou funcionário
Quando eu não salário
Ela, sim, propina
No ano dois mil e um
Se juntar algum
Eu peço a Deus do céu uma licença
E a dançarina, enfim
Já me jurou
Que faz o show
Pra mim

Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Quando esquento a sopa
Ela cantina
Ou quando eu Lexotan
É quando ela Reativina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Viro o calendário
Voa purpurina


Seis dias...