Lameblogadas

sexta-feira, julho 04, 2003

A volta pra casa é uma coisa muito chata pra quem tem que atravessar quatro pistas em velocidade máxima; se equilibrar entre os buracos da calçada, os camelôs, a fumaça das barraquinhas de churrasco, os vendedores de vales-transporte e as pessoas ansiosas para pegaram suas conduções; esperar o ônibus, que vem cheio e com homens inconvenientes e sem modos; carregar a bolsa pesada e agüentar em pé o engarrafamento e o cansaço.
Fica pior ainda, a volta para casa, quando se é obrigado a ouvir os bárbaros clichês ditos nas ruas. Ontem, ao ver um grupo de meninos pretos e mal-vestidos caminhando pela Francisco Bicalho, uma senhora armou um barraco dentro do ônibus. Agitou todo mundo, apontando para "aqueles pivetes filhos da puta que roubam e matam inocentes por aí". "Olha lá, estão preparados para dar o bote", gritava. Os garotos não fizeram nada, pelo menos no tempo em que o ônibus levou para entrar na Ponte. Mas o burburinho continuou. Frases feitas e cheias de preconceitos foram ditas durante a viagem. Falou-se da chacina da Candelária, das pessoas que defendem esses "marginaizinhos", das meninas que pedem esmola, em vez de aceitarem ser empregadas da classe média. "Não querem saber de um tanque, um fogão, só de pedir".
Deus que me perdoe, mas atravessei os 14 km que separam o Rio de Niterói pela Baía de Guanabara tendo um desejo horrível. Quis muito que os tais pivetes entrassem realmente no ônibus para assaltar. Mas somente as duas idiotas.

Férias

Desde que minhas férias foram antecipadas de setembro para agosto não consigo pensar em outra coisa. Vivo meus dias a planejar as tão sonhadas. Já estou ansiosa, achando que não vai dar tempo de fazer tudo que quero.
De concreto, apenas uma viagem marcada para Ilha Grande, com hospedagem no quarto "Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito", da pousada mais musical de Abraão.
De sonhado, uma recauchutagem total no carrinho, que há três anos não recebe um mimo meu. Pagar a multa recebida durante a viagem a Penedo (essa é antiga); comprar e instalar, finalmente, um rádio com CD player; fazer a vistoria; trocar o óleo (já deve estar na hora); lavá-lo e tirar o adesivo da campanha eleitoral. E, se der, consertar a mossa da primeira e única batida.
Mais planos: comprar outra cama branca, algo para tapar o sol que me desperta cedo todas as manhãs e, o principal, uma nova estante para os livros _ amontoados em cantos.
Alguns dias serão reservados para a arrumação dos meus dois quartos. Tem jornais espalhados e fora das pastas temáticas, papéis para serem jogados no lixo, roupas para doar, capas de CD's perdidas para encontrar.
Ah, devo consertar meu computador, me conectar a um novo provedor, organizar meus arquivos da faculdade que poderão ser aproveitados no Mestrado. Ih, tem isso. Vou estudar e, finalmente, definir o tema da tese. Não posso passar de agosto.
Além disso, vou visitar meu anjinho pelo menos uma vez por semana. Está um fofo o João Gabriel. Ele já fala "titi". Ah, mamãe me cobrou a prometida viagem para a fazenda da tia Mariquinha, em Cordeiro. Devo aproveitá-la para curtir também uns dias no sítio em Friburgo que tem patinhos nos três lagos, sopa de beterraba, lareira e história do meu amor.
Ai, vou poder ler o jornal todos os dias na praia, de manhã, um dos programas prediletos. Quero ainda ver muitos filmes no vídeo e no cinema. Pegar aquela sessãozinha à tarde no Paço, no CCBB e, com sorte, na Cinemateca do MAM.
Tudo isso são planos. Certeza, só uma: vou dormir muito em agosto.