Lameblogadas

sexta-feira, julho 07, 2006

Pela terceira eleição seguida, a campanha começa para mim na Central do Brasil. E sempre num horário ingrato: em 2002, ainda trainee, cheguei às 6h, junto com a candidata Rosinha Garotinho. Desconhecida do público, ela era apresentada aos passantes como "a candidata do restaurante popular, do piscinão, a secretária do cheque-cidadão, mulher do governador Anthony Garotinho." Dois anos depois, o bispo Marcelo Crivella também escolheu a Central para dar o pontapé inicial na campanha. Lá estava eu, também às 6h, para acompanhar a panfletagem e o corpo-a-corpo do senador que concorria à Prefeitura. Este ano, pude chegar uma hora mais tarde: 7h, para acompanhar Vladimir Palmeira. Mas o corpo-a-corpo nunca acaba ali: os candidatos, ansiosos para chegar ao Palácio Guanabara e cheios de gás ainda no início da campanha, caminham o dia inteiro atrás de votos. E nós vamos atrás.

No segundo dia, estou muito cansada. Ontem, depois da Central, fui a Niterói de barca (enquanto o candidato petista partia de táxi), voltei para a Praça XV, andei até a Candelária, encontrei a claque do PSOL e a senadora Heloísa Helena, andei de lá até a Cinelândia, no meio da Rio Branco, ouvi discursos intermináveis contra o neoliberalismo, o PT e o PSDB, almocei em dez minutos, voltei para o jornal, escrevi matérias para o online do Globo, para o impresso, tive uma enxaqueca, voltei pra casa pela Ponte, de ônibus, enfrentei um engarrafamento sem hora para acabar, tomei uma Neosaldina e tentei dormir. Foi difícil...

Hoje, acordei cedo, peguei a Barca, subi ao 30º andar do Assembléia, 10, para visitar meu ex-trabalho, depois dois lances de escada para entrevistar o senador Sérgio Cabral no COB, desci, me dei conta que perdi minha AGENDA COM TODOS OS TELEFONES DAS FONTES, fui para o Saara, almocei com o Eduardo Paes no Cedro do Líbano, entrevistei o tucano, caminhei pelo Saara com ele, ouvi seus cabos eleitorais gritarem musiquinhas, voltei para o jornal, comi biscoitos, escrevi matérias, flashes para o online, entrevistei Cabral de novo por telefone, liguei para o TRE, ofereci nota para a coluna do Ancelmo, coloquei minhas matérias na fôrma, dei título e agora quero ir embora!!!!

Mas antes pequenos comentários:

* A campanha do PT parece um túnel do tempo: Vladimir sendo mostrado como o líder estudantil, mas com quilos a mais e cabelos brancos que o deixam parecido com o Cid Moreira. E Bittar? Estava lá ontem, com a sua insignificância. Só não parece o Alckmin do Rio porque nem governo fez aqui. "Oi, eu sou o Bittar, candidato à Prefeitura. Vote em mim!" NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

* Eduardo Paes mostra que aprendeu com o mestre Cesar Maia, de quem já foi pupilo: beija os eleitores, faz pose para os fotógrafos, subindo em carrinho de mercadoria, pegando criança no colo e fazendo qualquer coisa para ficar bem na foto!!! Cumprimentou eleitora paraguaia, chamou uma vendedora de cigana e posou para fotos com moças inglesas. No Saara, falou em três línguas diferentes e ainda me respondeu: "falo qualquer língua para conseguir um voto".

* Sérgio Cabral faz pose de bom moço. Atacado pelo prefeito, diz que dará as mãos a ele. Com pinta de favorito, está fazendo campanha em escritórios. Mas quando vai à rua, como aconteceu hoje na Central, às 7h, já dá autógrafos. MEDO!!!

terça-feira, julho 04, 2006



Eu tinha prometido acabar a série "Lameblogadas na Copa", mas a coluna do Dapieve de hoje e a notícia publicada na Folha sobre a farra dos derrotados em Barcelona me fez voltar atrás. Não há muito o que comentar. Ronaldinho Gaúcho e Adriano "comemoraram" a volta para casa numa noitada na Espanha. Gaúcho, o melhor do mundo, ofereceu uma festa em casa, com pagode e hip hop. Mais tarde, curtiu a noite com o Imperador numa boate. Nenhum dos jogadores pediu desculpas pela má atuação. O que eu queria escrever sobre isso está hoje na coluna do Dapi, no Globo de hoje, principalmente nos últimos três parágrafos:

Cachorros mortos

Contei até 11, como na escalação favorita de Parreira. Depois contei mais uma vez. E de novo. Fiz isso nos últimos três dias, para tentar não chutar cachorros mortos. O problema é que, após o vexame coletivo na Alemanha, é difícil diferenciá-los dos cachorros vivos. Talvez a carrocinha tenha levado não só os velhos cães sem dono, a quem não se podia ensinar novos truques, mas toda a ninhada. Para mim, os únicos que jazem sem sombra de dúvida em Frankfurt são a comissão técnica e os laterais que tinham “a carta”, Cafu e Roberto Carlos. O capitão hereditário, porém, recusase a aceitar como encerrado seu ciclo na seleção. Alguém, por favor, meta uma bala de prata no peito desta criatura! Ok, ok, escapou um chutezinho, um “confere”.

Neste exercício de especulação futebolística, acrescento ao cemitério os que terão estourado os 30 anos na época da próxima Copa, o que infelizmente inclui Dida, Lúcio, Juan e Zé Roberto, de atuações dignas. Ainda pegam a barca de Caronte canina Rogério Ceni, Cris, Emerson, os Gilbertos, Mineiro, Juninho e Ricardinho. Já Ronaldo, 15 gols, 33 anos e sabe-deus-quantos quilos em 2010 navega de primeira classe, por serviços prestados.

Preocupa-me o futuro da seleção, preocupam-me os cachorros sobreviventes, muito machucados. Começo pelo candidato à braçadeira de Cafu, Kaká. Sou contra. Kaká é um rapaz extremamente religioso. Pessoas extremamente religiosas não falam palavrões. E um capitão às vezes tem que falar o diabo para seus companheiros. Sobretudo se eles forem tão apáticos quanto o próprio meia do Milan foi em quatro de cinco jogos na Alemanha.

Kaká, por sinal, já estará na terceira Copa em 2010. Terá 28 anos. Ou seja: alguns integrantes da “jovem guarda” de 2006 - que rachou com a “velha guarda”, está claro agora - não serão mais tão jovens assim na África do Sul, além de estarem estigmatizados como frouxos. Os reservas Júlio César e Cicinho, por exemplo, serão até trintões.

Igualmente Ronaldinho Gaúcho, se sobreviver aos ferimentos. Taí um cachorrinho que se queimou paca. Parece-me um caso terminal de belo jogador de clube. Barcelona, mas clube. Afinal, aquele saudado como rei, mito, lenda viva, sequer apareceu para jogar bola na Copa da Alemanha. Quem sabe no festival do filme publicitário de Cannes?

Sobrariam do Brasil de 2006 para o de 2010: estes dois meias sob suspeita (Kaká e Ronaldinho Gaúcho); um atacante queimado (Adriano); dois bons atacantes que ainda terão 26 anos (Robinho e Fred); um goleiro, um lateral e um beque já rodados (Júlio César, Cicinho e Luisão). Não dá um time. Renovação, portanto, é imperativo, não opção.

Continuaremos revelando talentos, tenho certeza. Contudo, como fazê-los formar uma equipe de verdade e, mais especificamente,
uma, desculpe, mas eu vou gritar, EQUIPE BRASILEIRA? No que a expressão implica de solidariedade e arte. Temo, por exemplo, pelo atacante Lenny, do Fluminense, hoje com 18 anos. É técnico e abusado, pinta como craque. Onde estará em 2010? Deslumbrado com a
própria propaganda, defendendo um clube estrangeiro, dando tapinhas nas costas do adversário? Ou seja, será preciso renovar também a mente - mas como renovar a mente do país inteiro, do qual essas levas de garotos são apenas mais um retrato? Respostas daqui a quatro anos.

P.S. Eu queria falar também sobre esses concursos da Fifa e os interesses escusos do futebol marketeiro de hoje. Num sei se terei fôlego.

P.SII: Por que não tive o privilégio de ser contemporânea a Nelson Rodrigues? A essa hora, ele estaria aqui pela redação do Globo excomungando os jogadores e escrevendo pérolas sobre a nossa seleção com letra minúscula...

domingo, julho 02, 2006

Despedida

Foi ótimo acompanhar de novo uma Copa do Mundo com entusiasmo. Torci, chorei, observei as belezas, tentei compreender o olhar masculino sobre a competição. Mas a partir de amanhã volto ao meu habitat natural: na próxima quinta-feira começa oficialmente a campanha eleitoral 2006. E estarei de novo nas ruas, acompanhando candidatos, seus correligionários e puxa-sacos. Como não é mais um assunto que me anime a escrever, o blog deve voltar à modorrenta atualização de uma vez por semana, quiçá por mês. Ou não. Tudo dependerá da minha disposição em fazer a crônica de algo que até me empolga profissionalmente, mas não emocionalmente. Se é que isso é possível...

W.O.

O mais triste de tudo é perder por ter desistido de jogar. A França ganhou porque o Brasil se esqueceu de entrar em campo. Ou alguém aí viu a seleção jogar? Do pouco que eu vi, antes de me enfiar embaixo de um edredon rezando para aquilo acabar logo, só vi Zidane. Aliás...

Ser velho não é o problema...



O problema é ajeitar meia em vez de jogar futebol!

E o consolo, se é que existe, é que em 2010 não teremos mais Cafu e Roberto Carlos! Nem Parreira.

E, ao contrário dos argentinos, que agora são meus ídolos, no Brasil só chorou no fim quem teve ao menos vontade de jogar - e vencer: